terça-feira, 20 de julho de 2010

Dois poemas de Andrei Biéli

 


A PALAVRA
 
Na febre de som
Do sopro
A treva é flama-fala.
 
Lá fugindo da laringe,
A terra exala.
 
Expiram
As almas
Das palavras não-compostas.
 
Deposita-se a crosta
Dos mundos que nos portam.
 
Sobre o mundo formado
Paira a profundidade
Das palavras proferíveis.
 
Profundamente ora
A palavra das palavras, Sarça viva.
 
E do futuro
Paraíso
Alça-se a serra adunca
 
Por onde em chamas, consumido,
Não passarei: nunca.
 
1917
 
* Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaidermann

 
 
BURLA
 
No
Vale
Uma vez
Em sonho
 
Ante
Vós
Eu, —
 
Velho
Tolo, —
 
A
Tocar
Mandolina.
 
Vós
Ouvíeis
Atento.
 
E —
— O Antigo Zodíaco.
 
Um dia
Surraram-me
E
Me
Expulsaram
Do
Circo
 
Em
Farrapos
E
Em
Sangue,
A clamar —
— Por Deus!
— Deus!
— Deus!
 
E
Pelo —
 
— Amor universal.
 
Vós
Por acaso
Encontrastes
O palhaço
Cantante.
 
Parastes
Para escutar
O canto.
 
Vós —
Observastes
 
O barrete
De bufão.
 
Vós —
Dissestes
Convicto:
 
— “Este
É o meu caminho
Da iniciação...
 
Vós —
Em sonho
Mirastes
 
O —
— Zodíaco.
 
1915
 
* Tradução de Augusto de Campos.

 
Andrei Biéli nasceu a 26 de outubro de 1880, em Moscou. Destacou-se como romancista, poeta e crítico literário. Filho de uma conceituada família ligada às ciências exatas; o pai é considerado o fundador da escola de matemática de Moscou. Sua obra está circunscrita entre o simbolismo e o neokantismo. Dos trabalhos que publicou, destaca-se o romance de cariz simbolista São Petersburgo, de 1913 e praticamente refeito em 1922. Morreu na sua cidade natal a 8 de janeiro de 1934.
 

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