sábado, 2 de outubro de 2010

Um poema de Vladimir Maiakovski



O poeta-operário

Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!
O quê? versos? Pura bobagem!
Para trabalhar não tens coragem".
Talvez
ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez
sem chaminés
seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca
é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos almas
com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fá-lo-emos marchar num ritmo célere.
Diante da vaga de palavras
levantemos um dique!
Mãos à obra!
O trabalho é vivo e novo!
Com os oradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!

(1918)

Vladimir Maiakovski nasceu a 19 de julho de 1893 na aldeia de Bagdádi, na Geórgia, então  parte do Império Russo. Passou a primeira infância na terra natal até quando veio a morte do pai e a miséria da família obriga a todos se irem para Moscou. Cedo ingressou nas frentes do movimento revolucionário — o que o levou à prisão algumas vezes. Com Burliuk, depois de ingressar na Escola de Belas Artes, construiu as bases do cubo-futurismo, angariando a presença de nomes como Khlébnikov, Kamiênsi, entre outros. Sua poética bebe, entretanto, da efervescência das vanguardas — do primitivismo eslavista, da linguagem transracional, do impressionismo e do simbolismo. Suicidou-se a 14 de abril de 1930 em Moscou. 


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MAIAKÓVSKI, V. Maiakóvski - vida e poesia. Tradução de Emilio C. Guerra e Daniel Fresnot. São Paulo: Martin Claret. (coleção obra-prima de cada autor), 2006, p.97-98.

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