terça-feira, 28 de setembro de 2010

Três poemas de Diva Cunha

para João Cabral de Melo Neto


Aflita
com as mãos molhadas
entro no poema

não tenho, amigo
a ciência
com que secas o afeto

sou antes
um lenço
torcido de tanta dor

*

Que gesto é esse que me abraça
puro fogo alastrado
sobre a carne passageira?

que corpo é esse onde habito?
de quem a voz que me devora
quando não digo o inominável nome?

como conter num mínimo ponto no espaço
esse deus que cresce incontido?

*

O corpo contém
o pequeno mundo de cada dia

casa de um Deus
que se teme amesquinhar
a cada gesto

para alcançá-lo
cultivo em silêncio
borboletas e formigas

Diva Cunha nasceu a 10 de dezembro de 1947 em Natal. Estudou no Colégio Imaculada Conceição e se graduou em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Na PUC-Rio, cursou pós-graduação. Foi professora de Literatura Portuguesa na UFRN e de Literatura do Rio Grande do Norte na Universidade Potiguar. Entre os livros publicados estão Canto de página (1986), A palavra estampada (1993), Coração de lata (1996) e Resina (2009). Escreveu ainda ensaio e crítica literária.

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