para João Cabral de Melo Neto
Aflita
com as mãos molhadas
entro no poema
não tenho, amigo
a ciência
com que secas o afeto
sou antes
um lenço
torcido de tanta dor
*
Que gesto é esse que me abraça
puro fogo alastrado
sobre a carne passageira?
que corpo é esse onde habito?
de quem a voz que me devora
quando não digo o inominável nome?
como conter num mínimo ponto no espaço
esse deus que cresce incontido?
*
O corpo contém
o pequeno mundo de cada dia
casa de um Deus
que se teme amesquinhar
a cada gesto
para alcançá-lo
cultivo em silêncio
borboletas e formigas
•
Diva Cunha nasceu a 10 de dezembro de 1947 em
Natal. Estudou no Colégio Imaculada Conceição e se graduou em Letras na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Na PUC-Rio, cursou pós-graduação.
Foi professora de Literatura Portuguesa na UFRN e de Literatura do Rio Grande
do Norte na Universidade Potiguar. Entre os livros publicados estão Canto de
página (1986), A palavra estampada (1993), Coração de lata (1996)
e Resina (2009). Escreveu ainda ensaio e crítica literária.
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