CIRQUE D'HIVER
É um brinquedo de corda digno de um rei
de uma outra
era: cavalo e bailarina.
Um cavalo de
circo, de olhos negros,
branco no pelo
e na crina
Sobre ele
vai montada a bailarina.
Na ponta dos
pés, ela rodopia.
Tem um ramo
de flores artificiais
na saia e no
corpete de ouropel.
Sobre a
cabeça, traz
um outro
ramo de flores artificiais
A cauda do
cavalo é puro Chirico.
É formal e
melancólica sua alma.
Ele sente em
seu dorso a perna leve
da bailarina
calma
em torno da
haste que a perfura, corpo e alma,
e lhe
atravessa o corpo, saindo por fim
sob seu
ventre como uma chave de lata.
Ele dá três
passos, faz uma mesura,
anda mais um
pouco, dobra uma das patas,
anda,
estala, pára e olha para mim.
A dançarina,
a essa altura, está de costas.
O cavalo é o
mais arguto dos dois.
Entreolhamo-nos,
com certo desespero,
e dizemos
depois:
“É, até aqui
chegamos nós dois”.
UMA ARTE
A arte de
perder não é nenhum mistério;
tantas
coisas contêm em si o acidente
de
perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um
pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave
perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de
perder não é nenhum mistério.
Depois perca
mais rápido, com mais critério:
lugares,
nomes, a escala subseqüente
da viagem
não feita. Nada disso é sério.
Perdi o
relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a
perda de três casas excelentes.
A arte de
perder não é nenhum mistério.
Perdi duas
cidades lindas. E um império
que era meu,
dois rios, e mais um continente.
tenho
saudade deles. Mas não é nada sério.
— Mesmo
perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte
de perder não chega a ser mistério
por muito
que pareça (Escreve!) muito sério.
•
Elizabeh
Bishop nasceu em Worcester, no dia 8 de fevereiro de 1911. Considerada uma das
mais importantes poetas de língua inglesa do século XX, sua obra é composta por
poemas, ensaios, textos críticos e reportagens. Recebeu, m 1956, o Prêmio
Pulitzer de Poesia pelo livro North & South – A Cold Spring, o National
Book Award e o National Book Critics Circle Award; foi a primeira mulher a
receber, em 1976 o Prêmio Neustadt. Morreu no dia 6 de outubro de 1979.
* Traduções de
Paulo Henriques Britto.
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