terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dois poemas de Geir Campos



A árvore

Ó árvore, quantos séculos levaste
a aprender a lição que hoje me dizes:
o equilíbrio, das flores às raízes,
sugerindo harmonia onde há contraste?

Como consegues evitar que uma haste
e outra se batam, pondo cicatrizes
inúteis sobre os membros infelizes?
Quando as folhas e os frutos comungaste?

Quantos séculos, árvore, de estudos
e experiências – que o vigor consomem
entre vigílias e cismares mudos –

demoraste aprendendo o teu exemplo,
no sossego da selva armada em templo,
E dize-me: há esperança para o Homem?


Tarefa


Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano

Geir Campos nasceu em São José do Calçado, Espírito Santo, em 1924. Poeta, dramaturgo, tradutor, editor, jornalista, ensaísta, contista e autor de literatura infantil e juvenil. Inicia a carreira de escritor nos anos 1940 divulgando na imprensa contos e poemas originais e traduzidos, ao mesmo tempo que trabalha como piloto da Marinha Mercante. Seu primeiro livro de versos, Rosa dos Rumos, é publicado em 1950. Organiza com o escritor Moacyr Félix, em 1962, a edição de Violão de Rua, da série Cadernos do Povo Brasileiro, coletânea de poemas engajados, editados pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE). Colabora em revistas literárias e jornais como Diário CariocaCorreio da ManhãÚltima HoraO EstadoDiário de NotíciasPara TodosLetras Fluminenses e Jornal de Letras. Traduziu Franz Kafka, Bertolt Brecht, Rainer Maria Rilke, Herman Hesse, Walt Whitman, William Shakespeare e Sófocles. (496 a 405 a.C.). Além de poesias, escreve ensaios, contos, peças teatrais, ficções infanto-juvenis e obras de referência. Morre em 1999, em Niterói, Rio de Janeiro.

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