A árvore
Ó árvore, quantos séculos levaste
a aprender a lição que hoje me dizes:
o equilíbrio, das flores às raízes,
sugerindo harmonia onde há contraste?
Como consegues evitar que uma haste
e outra se batam, pondo cicatrizes
inúteis sobre os membros infelizes?
Quando as folhas e os frutos comungaste?
Quantos séculos, árvore, de estudos
e experiências – que o vigor consomem
entre vigílias e cismares mudos –
demoraste aprendendo o teu exemplo,
no sossego da selva armada em templo,
E dize-me: há esperança para o Homem?
Tarefa
Morder o
fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano
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Geir Campos nasceu
em São José do Calçado, Espírito Santo, em 1924. Poeta, dramaturgo, tradutor,
editor, jornalista, ensaísta, contista e autor de literatura infantil e
juvenil. Inicia a carreira de escritor nos anos 1940 divulgando na imprensa
contos e poemas originais e traduzidos, ao mesmo tempo que trabalha como piloto
da Marinha Mercante. Seu primeiro livro de versos, Rosa dos Rumos, é publicado em 1950. Organiza com o escritor Moacyr
Félix, em 1962, a edição de Violão
de Rua, da série Cadernos do Povo Brasileiro, coletânea de poemas
engajados, editados pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos
Estudantes (CPC/UNE). Colabora em revistas literárias e jornais como Diário Carioca, Correio da Manhã, Última Hora, O Estado, Diário de
Notícias, Para Todos, Letras Fluminenses e Jornal de Letras. Traduziu Franz Kafka,
Bertolt Brecht, Rainer Maria Rilke, Herman Hesse, Walt Whitman, William
Shakespeare e Sófocles. (496 a 405 a.C.). Além de poesias, escreve ensaios,
contos, peças teatrais, ficções infanto-juvenis e obras de referência. Morre em
1999, em Niterói, Rio de Janeiro.
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