Desaparecido
Sempre que
leio nos jornais:
"De
casa de seus pais desapar’ceu..."
Embora sejam
outros os sinais,
Suponho
sempre que sou eu.
Eu,
verdadeiramente jovem,
Que por
caminhos meus e naturais,
Do meu
veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser
o próprio arrais.
Eu, que
tentasse errado norte;
Vencido,
embora, por contrário vento,
Mas
desprezasse, consciente e forte,
O porto do
arrependimento.
Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
— Livre o instinto, em vez de coagido.
"De casa de seus pais desapar’ceu..."
Eu, o feliz desaparecido!
Sugestão
Sabe-me a
sonho
Estar
aqui,
De olhos
fechados,
Pensando em
ti.
Isto
recorda-me
Aquele
dia
Em que te
olhava,
Mas não te
via.
Tu
perguntaste:
— Que estás
a ver?
Fechei os
olhos
Sem
responder.
A tua voz
...
Como a
senti!
Vinha de
tudo,
Menos de ti.
•
Carlos Queirós
nasceu em Lisboa em 5 de abril de 1907. Poeta da chamada segunda geração
modernista, identificado como um dos grandes nomes da revista Presença, desempenhou importante papel
na ligação com os de sua geração e a de Orpheu,
designadamente a primeira da cena modernista em Portugal. Escreveu Desaparecido,
publicado em 1935 e Breve tratado de não versificação, de 1948. Morreu em Paris no dia 27 ou
28 de outubro de 1949.
Nenhum comentário:
Postar um comentário