segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Três poemas eróticos de Maria Teresa Horta




JOELHO

Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho

Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio

Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo

Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo

Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo

E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento

Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas

Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.


SEGREDO

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

Nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o anel
em redor do teu pescoço

Com as minhas longas
pernas
e a sombra do teu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

Nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL

Põe devagar os dedos
devagar…

e sobe devagar
até ao cimo

o suco lento que sentes
escorregar
é o suor das grutas
o seu vinho

Contorna o poço
aí tens de parar
descer, talvez
tomar outro caminho…

Mas põe os dedos e sobe
devagar…

Não tenhas medo
daquilo que te ensino

Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa, Portugal, em 20 de maio de 1937. Formou-se em Letras pela Universidade de Lisboa e apresentou seu primeiro trabalho em 1960, o livro de poemas Espelho inicial. Fez parte do grupo Poesia 61, originado a partir de uma revista de mesmo nome. No início dos anos setenta, publica o livro Novas cartas portuguesas ao lado de Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa; a obra fez a escritora ser conhecida no mundo, dada a perseguição e a censura impostas pela ditadura portuguesa e as solidariedades de intervenção feministas que envolveu nomes como Simone de Beauvoir. Autora de vasta obra que se divide entre a prosa e a poesia. 

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