ESCULTURA
O aço não desgasta
seus espelhos múltiplos
curvas
arestas
apocalíptica fera.
O aço não se entrega
e nem se estraga é
forma
– presença imposta sem signos
O aço ameaça
– imóvel –
com a aspereza total
de seu frio.
Ó forma
violenta pura
como emprestar-te algo
humano
uma vivência um nome?
PARA FIXAR
Para fixar
a flor não nos serve o espaço
de pauta
ela des
liza pre
cede-nos
no horizonte duração
aberta
elaestrela nada
a fixa
mas elaflor nos fixa
em seu
voo
flor
que nos vive no puro
tempo
VIAGEM
Viajar
mas não
para
viajar
mas sem
onde
sem rota sem ciclo sem círculo
sem finalidade possível.
Viajar
e nem sequer sonhar-se
esta viagem.
•
Orides
Fontela nasceu em São João da Boa Vista, São Paulo, no dia 21 de abril de 1940.
Publicou cinco volumes de poemas: Transposição,
seu livro de estreia, em 1969; Helianto
(1973), Alba (1983), Rosácea (1986) e Teia (1996). Considerada uma das mais importantes poetas da
literatura brasileira da segunda metade do século XX, Orides deixou uma extensa
variedade de poemas inéditos. Ela morreu em Campos do Jordão, São Paulo, em
novembro de 1998. Em 2006, parte da sua obra foi reunida na edição Poesia Reunida.