ABISMOS
Por abismos sem fim, vou
caminhando...
E o mais profundo abismo é o alto céu.
E que vertigens sempre sinto, quando
Me inclino sobre a luz que amanheceu!
É um abismo a oração que vou
rezando.
É um mar sem fundo a flor que renasceu...
Nas palavras que vou pronunciando,
Cada ideia é tão alta como o céu!
Sobre abismos, caminho dia a
dia...
Das suas negras trevas se irradia
Uma outra escuridão ainda maior...
Que a mim me diz, nas horas em que
cismo,
Que é um abismo junto d’outro abismo,
Meu coração ao pé do seu amor!...
A ALMA
A alma não é mais
Que transcendente imagem
De tudo quanto abrange
A luz do nosso olhar.
É o retrato perfeito
E fiel duma paisagem:
Tem uma serra ao fundo, e, depois dela, o mar.
POETA
Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.
Humildes, pobres cousas, como eu
sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou —
Em num, o antigo tempo é nova idade.
Sou fraga da montanha, névoa
astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.
Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.
E o mais profundo abismo é o alto céu.
E que vertigens sempre sinto, quando
Me inclino sobre a luz que amanheceu!
É um mar sem fundo a flor que renasceu...
Nas palavras que vou pronunciando,
Cada ideia é tão alta como o céu!
Das suas negras trevas se irradia
Uma outra escuridão ainda maior...
Que é um abismo junto d’outro abismo,
Meu coração ao pé do seu amor!...
Que transcendente imagem
De tudo quanto abrange
A luz do nosso olhar.
É o retrato perfeito
E fiel duma paisagem:
Tem uma serra ao fundo, e, depois dela, o mar.
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou —
Em num, o antigo tempo é nova idade.
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.
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Teixeira de Pascoaes nasceu a 2 de
novembro de 1877, em Amarante. Sua trajetória pela literatura inicia com a
publicação de Embriões, em 1895, uma estreia precoce mas que marcaria a
poesia portuguesa do seu tempo. O livro, junto com Belo I e Belo II
(editados em 1896 e 1897, respectivamente quando já era estudante de Direito em
Coimbra), Sempre (1898) e Terra proibida (1899) são essenciais na
composição de sua poética. Além de poesia, também escreveu prosa, destacando-se
as biografias romanceadas de Napoleão, Camilo Castelo Branco, São Paulo, São
Jerônimo e Santo Agostinho, além de ensaios, conferências e novelas. Um dos
nomes da chamada Renascença Portuguesa, é de sua iniciativa com Leonardo
Coimbra e Jaime Cortesão, a revista A águia. Pascoaes morreu a 14 de
dezembro de 1952 em Gatão.
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