...e lhe regou de lágrimas os pés e os
enxugou com os cabelos da
sua cabeça.
Evangelho de S. Lucas.
Ó Madalena, ó cabelos de
rastos,
Lírio poluído, branca flor
inútil,
Meu coração, velha moeda
fútil,
E sem relevo, os
caracteres gastos,
De resignar-se torpemente
dúctil,
Desespero, nudez de seios
castos,
Quem também fosse, ó
cabelos de rastos,
Ensanguentado,
enxovalhado, inútil,
Dentro do peito,
abominável cómico!
Morrer tranquilo, — o
fastídio da cama.
Ó redenção do mármore
anatómico,
Amargura, nudez de seios
castos!...
Sangrar, poluir-se, ir de
rastos na lama,
Ó Madalena, ó cabelos de
rastos!
*
Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, porque não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
Por
uma fonte para nunca mais!…
Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso,
silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
— Porque ides sem mim, não
me levais?
Sem vós o que são os meus olhos abertos?
— O espelho inútil, meus
olhos pagãos!
Aridez de sucessivos desertos…
Fica sequer, sombra das minhas
mãos,
Flexão casual de meus dedos incertos,
— Estranha sombra em movimentos
vãos.
*
O meu coração desce
Um balão apagado...
— Melhor fora que ardesse,
Nas trevas, incendiado.
Na bruma fastidienta,
Como um caixão à cova...
— Porque antes não rebenta
De dor violenta e nova?!
Que apego ainda o sustém?
Átomo miserando...
— Se o esmagasse o trem
Dum comboio arquejando!...
O inane, vil despojo
Da alma egoísta e fraca!
Trouxesse-o o mar de rojo,
Levasse-o na ressaca.
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