segunda-feira, 3 de setembro de 2012

2 poemas de William Carlos Williams



O vaso de flores

Rosa confundido ao branco 
flores e flores reversas
recolhem e derramam a flama velada
atirando-a de volta
cornucópia da lâmpada

pétalas obscurecidas de través com malva

vermelho onde em volutas
cada pétala põe seu fulgor sobre outra pétala
volta de gargantas flamiverdes
pétalas radiantes de luz transverberada
pelejando
           no alto
as folhas
estirando o seu verde acanhado
para fora da borda do vaso

e eis ali o vaso, de todo obscuro
garrido em sua capa de musgo.


O direito de passagem

Transitando com a idéia posta
em nada deste mundo

a não ser o direito de passagem
eu desfruto a estrada por

efeito de lei 
vi

um homem de idade
que sorriu e desviou o olhar

para o norte, além de uma casa 
uma mulher de azul

que estava rindo e se
inclinando para a frente

a fim de olhar o rosto meio
voltado do homem

e um menino de uns oito anos que
olhava para o meio da

barriga do homem
para uma corrente de relógio 

A suprema importância
deste inominado espetáculo

fez com que eu acelerasse
ao passar por eles sem palavra

Por que me importaria o rumo?
e lá fui rodando sobre as

quatro rodas do meu carro
pela estrada molhada até

que vi uma moça com uma perna
sobre o parapeito de um balcão.

William Carlos Williams nasceu a 17 de setembro de 1883 em Rutherford, cidade onde passou toda a vida até sua morte a 4 de março de 1963.  A marca de sua obra poética é dada pela objetividade com que repõe o plasticismo das imagens do cotidiano.  É autor de extensa obra circunscrita em dois gêneros,  a poesia e a prosa.  


* Traduções de José Paulo Paes. 


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