Fernando Pessoa
Teu canto justo que desdenha as sombras
Limpo de vida viúvo de pessoa
Teu corajoso ousar não ser ninguém
Tua navegação com bússola e sem astros
No mar indefinido
Teu exacto conhecimento impossessivo
Criaram teu poema arquitectura
E és semelhante a um deus de quatro rostos
E és semelhante a um deus de muitos nomes
Cariátide de ausência isento de destinos
Invocando a presença já perdida
E dizendo sobre a fuga dos caminhos
Que foste como as ervas não colhidas
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Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto em 6 de novembro de 1919 e morreu em 2 de julho de 2004, em Lisboa. Em 1999 recebeu o mais importante prêmio das literaturas de língua portuguesa, o Camões e, no ano da sua morte o Reina Sofía. Autora de uma vasta obra poética, todos os livros seus foram reunidos na antologia Obra poética.
* Este poema está em Cem Poemas
de Sophia (Paço de Arcos: Editorial Caminho-Visão/JL, 2004).
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