QUE HÁ PARA LÁ DO SONHAR?
Céu baixo, grosso,
cinzento
e uma luz vaga pelo ar
chama-me ao gosto de estar
reduzido ao fermento
do que em mim a levedar
é este estranho tormento
de me estar tudo a contento,
em todo o meu pensamento
ser pensar a dormitar.
Mas que há para lá do sonhar?
e uma luz vaga pelo ar
chama-me ao gosto de estar
reduzido ao fermento
do que em mim a levedar
é este estranho tormento
de me estar tudo a contento,
em todo o meu pensamento
ser pensar a dormitar.
Mas que há para lá do sonhar?
CAI A CHUVA ABANDONADA
Cai a chuva abandonada
à minha melancolia,
a melancolia do nada
que é tudo o que em nós se cria.
Memória estranha de outrora
não a sei e está presente.
Em mim por si se demora
e nada em mim a consente
do que me fala à razão.
Mas a razão é limite
do que tem ocasião
de negar o que me fite
de onde é a minha mansão
que é mansão no sem-limite.
Ao longe e ao alto é que estou
e só daí é que sou.
à minha melancolia,
a melancolia do nada
que é tudo o que em nós se cria.
Memória estranha de outrora
não a sei e está presente.
Em mim por si se demora
e nada em mim a consente
do que me fala à razão.
Mas a razão é limite
do que tem ocasião
de negar o que me fite
de onde é a minha mansão
que é mansão no sem-limite.
Ao longe e ao alto é que estou
e só daí é que sou.
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Vergílio Ferreira nasceu a 28 de
janeiro de 1916, em Gouveia. É um dos nomes de relevo da literatura portuguesa
do século XX, reconhecido por alguns dos mais importantes romances, como Aparição,
sua Magnum opus. Fixado entre o Neo-realismo e o Existencialismo, sua
obra também se destaca na prosa curta, no ensaio, e na poesia, deixado neste gênero
alguns textos esparsos em seus diários. Recebeu o Prêmio camões em 1992. Morreu
a 1º de março de 1996.
* Poemas de Conta-Corrente 1.
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