Poema
para Marie
Amor, aperfeiçoarei para você o menino
Que em meu cérebro com diligência manheira
Cava com pá pesada e faz com relva arrimo
Ou patinha no esterco de funda caleira.
Todo ano eu semeava o metro de jardim.
Com camadas de céspede o muro eu erguia
Para ter distantes galinhas e bacorim.
Todo ano, à entrada deles, o monte ruía.
Ou no lodo sugante eu chapinhava
Com gosto e representava fluidez da caleira,
Mas sempre meus bastiões de argila e vasa
Rompiam-se com a vinda da chuva-criadeira.
Amor, aperfeiçoe para mim este menino
De estreitos e imperfeitos limites quebrando ao léu:
Dentro em novos limites agora, ordene o domínio
E quadre o círculo: quatro paredes e um anel.
Amor, aperfeiçoarei para você o menino
Que em meu cérebro com diligência manheira
Cava com pá pesada e faz com relva arrimo
Ou patinha no esterco de funda caleira.
Todo ano eu semeava o metro de jardim.
Com camadas de céspede o muro eu erguia
Para ter distantes galinhas e bacorim.
Todo ano, à entrada deles, o monte ruía.
Ou no lodo sugante eu chapinhava
Com gosto e representava fluidez da caleira,
Mas sempre meus bastiões de argila e vasa
Rompiam-se com a vinda da chuva-criadeira.
Amor, aperfeiçoe para mim este menino
De estreitos e imperfeitos limites quebrando ao léu:
Dentro em novos limites agora, ordene o domínio
E quadre o círculo: quatro paredes e um anel.
Seguidor
Meu pai lavrava com charrua e cavalo.
Os ombros redondos como velas pandos
Entre os varais e o sulco. Bastava um estalo
De língua e os cavalos iam forcejando.
Os ombros redondos como velas pandos
Entre os varais e o sulco. Bastava um estalo
De língua e os cavalos iam forcejando.
Um conhecedor. Colocava a travessa
E ajustava a relha de aço agudo e vivo.
Rolavam sem quebrar os torrões de terra.
Na borda do campo, a um tirão imprevisto
E ajustava a relha de aço agudo e vivo.
Rolavam sem quebrar os torrões de terra.
Na borda do campo, a um tirão imprevisto
De rédeas, a junta suarenta virava
E voltava para o terreno. Ele
Estreitava um olho a fitar a lavra,
Traçando o sulco exatamente.
E voltava para o terreno. Ele
Estreitava um olho a fitar a lavra,
Traçando o sulco exatamente.
Eu tropeçava nas pegadas das botas,
Caía às vezes na céspede luzida;
Às vezes ele levava-me nas costas
Descendo e subindo ao ritmo da lida
Caía às vezes na céspede luzida;
Às vezes ele levava-me nas costas
Descendo e subindo ao ritmo da lida
Eu queria crescer e lavrar,
Fechar um olho, firmar os braços.
Tudo o que fiz foi seguir sem parar
Pela fazenda à sombra de seus passos.
Fechar um olho, firmar os braços.
Tudo o que fiz foi seguir sem parar
Pela fazenda à sombra de seus passos.
Um estorvo, falante, falseando,
Caindo sempre. Mas agora
É meu pai que vive tropeçando
Atrás de mim, e não vai embora.
Caindo sempre. Mas agora
É meu pai que vive tropeçando
Atrás de mim, e não vai embora.
•
Seamus Heaney nasceu em 13 de abril de 1939, em Derry, Irlanda do Norte, de família agricultora. Em 1961 formou-se em
língua e literatura inglesas na Queen's University, instituição na qual
começaria a lecionar cinco anos mais tarde. O impulso para escrever poesia
manifestou-se apenas aos 23 anos, com o incentivo do crítico e então professor
Philip Hobsbaum. A atividade poética não tirou seu gosto pela educação: em
1984, tornou-se professor de retórica e oratória em Harvard e, em 1988, passou
a dar aula de poesia na Universidade de Harvard. Em 1995 recebeu o Prêmio Nobel
de Literatura. Escreveu vasta obra. Morreu no dia 30 de agosto de 2013.
* Traduções de José Antonio Arantes São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário