Parábola
Por esse tempo um monstro, a Esfinge, devastava os arredores de Tebas, devorando os viandantes que não adivinhavam os seus enigmas (...)
Sobre o desenho de um templo
traço o poema e digo
é néscia a palavra
é fífia o som
é vazia a garganta
Falsa é a voz que vibra o santuário
- a besta de Tebas ocupa já
o plano mais alto
no pedestal dos deuses
tudo encenado e em acto
(Oh, não falte quem engula
o oráculo e a hóstia!)
COM ÉDIPO AUSENTE
- TAL É A MISTIFICAÇÃO DA PALAVRA
Posfácio
Para Manuel Ferreira
Num retomar constante e abandono
os poemas podem ser assim ou de outro modo
até ao infinito. Só que estes
(não importa o sangue ou seiva que a outros se foi pedir)
são bem as marcas que o estar-no-mundo e a dor
feriram numa certa pedra.
E fora outra a sorte ou talvez o lugar e o tempo
e seria diferente o livro
e a lembrança que de uma obra fica
depois de lida e entregue aos bichos.
Para Manuel Ferreira
Num retomar constante e abandono
os poemas podem ser assim ou de outro modo
até ao infinito. Só que estes
(não importa o sangue ou seiva que a outros se foi pedir)
são bem as marcas que o estar-no-mundo e a dor
feriram numa certa pedra.
E fora outra a sorte ou talvez o lugar e o tempo
e seria diferente o livro
e a lembrança que de uma obra fica
depois de lida e entregue aos bichos.
Construção vertical
Com pauzinhos de fósforo
podes construir um poema.
podes construir um poema.
Mas atenção: o uso da
cola
estragaria o teu poema.
estragaria o teu poema.
Não tremas: o teu
coração,
ainda mais que a tua mão,
ainda mais que a tua mão,
pode trair-te. Cuidado!
Um poema assim é árduo.
Sem cola e na vertical,
pode levar uma eternidade.
Sem cola e na vertical,
pode levar uma eternidade.
Quando estiver concluído,
não assines, o poema não é teu.
não assines, o poema não é teu.
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