Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora.
Eu disse a mim: cessa,
Que eu não te veja:
Nenhuma promessa
De rara beleza.
E vá sem martírio
Ao doce exílio.
Foi tão longa a espera
Que eu não olvido.
O terror, fera,
Aos céus dedico.
E uma sede estranha
Corrói-me as entranhas.
Assim os Prados
Vastos, floridos
De mirra e nardo
Vão esquecidos
Na viagem tosca
De cem feias moscas.
Ah! A viuvagem
Sem quem as ame
Só têm a imagem
Da Notre-Dame!
Será a prece pia
À Virgem Maria?
Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora!
No Cabaré-Verde às cinco horas da tarde
Depois de oito dias, larguei as botinas
Pelo caminho. Eu entrei em Charleroi.
— No Cabaré-Verde: pedi torradas finas,
Manteiga e presunto, que é frio o lugar.
Feliz, estiquei as pernas sob a mesa
Verde: e contemplei os toscos motivos
Da tapeçaria. — E foi uma beleza
Quando a vi, enormes tetas, olhos vivos,
É ela! Não é um beijo que a apavora!
Risonha, trouxe a refeição na hora,
O presunto tostado, num belo prato,
O presunto róseo e branco perfumado
Pelo alho — e encheu-me o copo ávido
De espuma brilhante como um raio de sol.
Outubro de 1870
* Traduções de Claudio Daniel
* Traduções de Claudio Daniel
A eternidade
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
* Tradução de Augusto de Campos
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Arthur Rimbaud nasceu a 20 de outubro
de 1854 em Charleville, nordeste da França. Gênio precoce, revolucionou a
poesia ainda que tenha sido o autor de breve obra. Cedo abandonou a literatura
e foi viver para a África, só retornando ao seu país depois de sérios problemas
de saúde que o levariam à morte a 10 de novembro de 1891, em Marselha.
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