Revelação
Tinha
quarenta e cinco… e eu, dezasseis…
Na minha
fronte, indómitos anéis
Vinham da
infância, saltitando ainda.
Contavam
dela: — Já falou a Reis!
Tinha
quarenta e cinco… e eu, dezasseis…
Formosa?
Não. Mais que formosa: linda.
Seu olhar
diz: Seja o que o Amor quiser
A verdade
planta que os meus dedos tomem!
Pela última
vez foste mulher…
E eu, pela
vez primeira, fui um homem!
Não choreis
os mortos
Não choreis
nunca os mortos esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.
E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar... guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.
Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.
E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.
E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar... guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.
Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.
E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.
Obrigado
Por teu sorriso
anónimo, discreto,
(O meu país é um reino sossegado…)
Pela ausência da carne em teu afecto,
Obrigado!
(O meu país é um reino sossegado…)
Pela ausência da carne em teu afecto,
Obrigado!
Pelo perdão
que o teu olhar resume,
Por tua formosura sem pecado,
Por teu amor sem ódio e sem ciúme,
Obrigado!
Por tua formosura sem pecado,
Por teu amor sem ódio e sem ciúme,
Obrigado!
Por no
jardim da noite, a horas más,
A tua aparição não ter faltado,
Pelo teu braço de silêncio e paz,
Obrigado!
A tua aparição não ter faltado,
Pelo teu braço de silêncio e paz,
Obrigado!
Por não
passar um dia em que eu não diga
— Existo, sem futuro e sem passado.
Por toda a sonolência que me abriga…
Obrigado!
— Existo, sem futuro e sem passado.
Por toda a sonolência que me abriga…
Obrigado!
E tu, que
hoje és meu íntimo contraste,
Ó mão que beijo por me haver cegado!
Ai! Pelo sonho intacto que salvaste,
Obrigado! Obrigado! Obrigado!
Ó mão que beijo por me haver cegado!
Ai! Pelo sonho intacto que salvaste,
Obrigado! Obrigado! Obrigado!
•
Pedro Homem de Mello nasceu a 6 de
setembro de 1904, no Porto, cidade onde viveu toda sua vida até 5 de março de
1984. Formado em Direito, optou por, anos depois de iniciar uma carreira como
advogado, ser professor de Língua Portuguesa. Começa a publicar em revistas
como a Presença e escreveu vasta obra poética e ensaística — nesta,
tomando como interesse o folclore português. Entre, alguns dos seus trabalhos,
destacam-se Bodas vermelhas (1947) e Ecce Homo (1974).
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