domingo, 16 de agosto de 2015

Três poemas de Haroldo de Campos


O INSTANTE

o instante
é pluma

seu holograma
radia estável

como quem olha pelo cristal
do tempo

feixe fixo
de luz

(já não se vê se o olho deixa sua seteira)

prisma

o sol
chove
de um teto
zenital

elipse: um estilo de persianas


APROXIMAÇÕES AO TOPÁZIO

o topázio
canibaliza seus amarelos
lente no olho tórrido
da luz
forno solar

aqui se mascam
carvões ardentes

(cinzas, fogos rasurados, cúspides
truncadas: br/asa)

o girassol pensa:
leopázios!

uma dança
de espadas

*
esta
escrita
delirante

lâminas cursivas

a lua
entre dois
dragões

com uma haste
de bambu
passar
por entre lianas
sem desenredá-las


Haroldo de Campos nasceu em São Paulo a 19 de agosto de 1929. Com o irmão Augusto de Campos e Décio Pignatari formaram o grupo Noigandres e inauguraram, em 1956, o movimento concretista. Publicou, entre outros, Xadrez de estrelas, Galáxias e Crisantempo. Morreu a 16 de agosto de 2003.

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