OLHAR
Teu olhar
cor de rio
É água que
muda, em arranjo
Com o dia
saciado no cenário.
Madrugada,
Vestido de anjo
Um naco do
manto celestial
Sob teus
cílios, entre as margens
Se fez.
Flui, flui viva água em paragens.
A noite
parte, mas o amor permanece
E minha mão
sente bater um coração.
A alvorada
quis adornar nossos corpos com sua acalmação.
Corpo-de-Deus.
O desejo matinal
retomou nossos corpos nus
Para
esculpir uma carne que acreditávamos cansada.
Sobre os
rios ao longe barcas já desancoradas.
Nossas peles
depois do amor têm cheiro de pão quente.
Se a água
dos rios está pelos nossos membros,
Teus olhos
lavarão minha alma;
Mas teu
olhar líquido ao meio-dia que eu temo
Se
transformará em chumbo?
Eu tenho
medo do dia, do dia pesado como um jumbo
Do dia que
sacia teu olhar cor de rio
Ou numa
noite pavimentada por gêmeos triunfos
Se a vitória
grita a volúpia dos anjos,
Revele-se
nela a Majestade de um Ganges.
* Tradução de Lucas Guimaraens
O único surrealista genuíno, Crevel deixa saudades.
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