SE
Se não perdes a cabeça e o tempo é tal
Que a loucura
inflama todos contra ti;
Ou, caindo no descrédito geral,
Sem melindres
continuas crendo em ti;
Se consegues sem desânimo esperar,
Sem rancores com
rancores rebater
Nem mentiras com mentiras rechaçar,
Sem com isso sábio ou
santo querer ser;
Se liberto da ilusão podes sonhar
E pensar sem chafurdar no
pensamento;
Se ao sucesso e ao insucesso sabes dar
Sempre o mesmo indiferente
tratamento;
Se consegues suportar que tuas idéias
Virem lábia de patifes contra
os tolos;
Ou se a queda de tua obra mal pranteias
E começas a reerguer os teus
tijolos;
Se consegues apostar tudo que tens,
Em uma única cartada, e então
perder,
Sem jamais chorar à míngua de teus bens
Nem diante o recomeço
esmorecer;
Se consegues coração, nervos e músculos
Empenhar além da força que
te assiste,
Até nada mais restar senão, minúsculos,
Os apelos da vontade, que
persiste;
Se não perdes entre a plebe a distinção
E, entre reis, um certo quê
de popular;
Se consegues dar as mãos – co’s pés no chão –
E inimigos – ou
amigos – enfrentar;
Se, segundo por segundo, os teus minutos
Dão à volta do
ponteiro honesto trilho,
Tua é a terra inteira e todos os seus frutos
E, acima
de tudo, és um homem, meu filho.
O CONTO DE URIAS
“Havia em uma cidade dois
homens; um rico e
outro pobre.”
JACK BARRETT foi a Qüetta
A rufo de tambor.
Com três partes do
soldo
Em Shimla deixou Lenore.
Tombou tão pronto em Qüetta,
Que nem viu de
outubro a cor.
Jack Barrett foi a Qüetta,
Sem justa explicação,
Estranha
transferência
No mais belo da estação.
Partiu era setembro,
E morreu de
supetão.
Jack Barrett foi a Qüetta,
E lá se despediu,
Lutando por dois homens
No “bom posto” que assumiu.
Lenore vestiu-lhe luto,
Mas penúria nunca viu.
Jack
Barrett hoje em Qüetta
Inânime se espraia,
Mas quem apostaria
Que em espírito
não saia
A perguntar por que
O arrancaram do Himalaia?
E quando o
Toque do
Clarim
Ecoe sobre o Harnai,
E o Livro Negro da Chacota
Enfim revele o guai,
Se a cova que devora a carne
O espírito propele,
De quem mandou
Jack Barrett lá
Eu não desejo a pele.
* As traduções apresentadas aqui são de Gil Pinheiro e foram copiadas da edição n.5 dos Cadernos de Literatura em Tradução.
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