sexta-feira, 22 de abril de 2016

Quatro poemas inéditos de Orides Fontela



O AGUADEIRO

Derramar um
cântaro

um canto
deixar fluir
o novíssimo
encanto.


CORES

Equilibrar-se em
vermelho.

Evitar o rosa.

Despetalar o amarelo.

Transcender-se em
violeta.

Colher algum azul
se possível.


TEOLOGIA II

Deus existir
ou não: o mesmo
escândalo.


LÁPIDE

Resta uma
sombra
soçobro

a memória sem
porque

resta um
ovo
oco
talvez lenda

pobre nome
vazio.


Orides Fontela nasceu em São João da Boa Vista, São Paulo, no dia 21 de abril de 1940. Publicou cinco volumes de poemas: Transposição, seu livro de estreia, em 1969; Helianto (1973), Alba (1983), Rosácea (1986) e Teia (1996). Considerada uma das mais importantes poetas da literatura brasileira da segunda metade do século XX, Orides deixou uma extensa variedade de poemas inéditos. Ela morreu em Campos do Jordão, São Paulo, em novembro de 1998. Em 2006, parte da sua obra foi reunida na edição Poesia Reunida e em 2015 publicada a primeira edição com sua obra poética completa.

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