O SUPLÍCIO
A febre se
parece com Deus
A loucura: a
última oração.
Longo tempo
bebi de um estranho cálice
de álcool e
fezes
e vi na maré
da taça os peixes
atrozmente
brancos de sonho.
E ao
levantar a taça, digo
a Deus, te
ofereço este suplício
e esta hóstia
nascida do sangue
que todos
olhos mana
como
ordenando-me a beber, como ordenando-me morre
para que no
fim seja ninguém
seja igual a
Deus.
O ANTICRISTO
(SEBASTIÃO NO SONHO)
No Metrô vi
um homem grandiosamente belo
que olhava
os homens como quem olha um peido
na rua vi um
homem escandalosamente bonito
que tinha na
testa o sinal de justiça,
o Branco 5,
o Branco número
que dividiu
os céus.
No espelho
escuro
de um bar
onde acreditavam,
alguns que
viviam, havia já um Desperto
que olhava a
cena como se existira.
CANÇÃO PARA
UMA DISCOTECA
Não temos fé
no outro
lado desta vida
só espera o
rock and roll
diz a caveira
que há entre minhas mãos
dança, dança
o rock and roll
para o rock
o tempo e a vida são uma miséria
o álcool e o
haxixe não dizem nada da vida
sexo, drogas
e rock and roll
o sol não brilha
pelo homem,
o mesmo que
o sexo e as drogas;
a morte é a cona
do rock and roll.
Dança até
que morte te chame
e diga
suavemente entra
entra no
reino do rock and roll.
DEDICATÓRA
Muito além
de onde
ainda se esconde
a vida, há
um reino, se
cultiva
como um rei
sua agonia,
floresce como
um reino
a suja flor
da agonia:
eu que me
prostituí totalmente, ainda posso
prostituir
minha morte e fazer
do meu cadáver
o último poema.
* Tradução de Pedro Fernandes de O. Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário