OS TIGRES DA
TIA JENNIFER
Habitantes
de um mundo verde vestidos de topázio,
Curveteiam sobre
a tela os tigres da Tia Jennifer,
Não temem os
homens por debaixo das árvores;
Movem-se
seguros e lustrosos como cavaleiros.
Esvoaçando
por entre as lãs os dedos da Tia Jennifer
Acham até
difícil puxar a agulha de marfim.
O volume maciço
da aliança de casamento do Tio
Carrega pesadamente
na mão da Tia Jennifer.
Quanto ela
estiver morta, as mãos aterradas da Tia Jennifer
Ostentarão ainda
os anéis das provações que a dominaram.
Os tigres
que ela fez em cima daquela tela
Continuarão a
curvear, altivos e destemidos.
A CHUVA DE
SANGUE
Nas pedras
quentes da vida naquele ano de breu,
Uma chuva
irada, de sangue vermelha, choveu.
Sob as
arremetidas daquela aridez molhada
Jardim algum
se ergueu, ou cresceu haste tombada,
Como de um céu
sem sol todo o dia choveu
E os homens
voltavam das ruas de terror
Todos manchados
daquele desnatural icor.
Sob a noite
os amantes irritados não apagavam
A luz, mas
por sobre o seu respirar escutavam
O som que
ouve na morte quem está para morrer.
Cada um
perguntava, e ninguém ousava dizer
Que ominoso
sinal naquela torrente de fogo caía.
E jazíamos toda
a noite, enquanto em cima chovia
Forte a chuva
de pingos como se sangrasse o céu;
E cada
madrugada despertávamos para aquele escarcéu
E os homens
sabiam que podiam estancar a ferida,
Mas todos
amaldiçoavam a cidade acometida,
Os telhados culpados
pela chuva fustigados.
•
Adrienne Rich nasceu a 16 de maio
de 1929, em Baltimore, Maryland. Os seus primeiros trabalhos, incluindo A
Change of World (1951), com o qual ganhou o prestigiado Yale Younger Poets
Award, estavam muito próximos à forma exata da poesia, termo radicalizado a
partir de sua obra das duas décadas seguintes. Essas transformações começam com
Snapshots of a Daughter-in-Law (1963), uma antologia que explora questões
de identidade, sexualidade e política, marcadamente pelo interesse na justiça
social, no anti-belicismo e num radical feminismo, questões que se espraiam em Necessities
of Life (1966), Leaflets (1969) e The Will to Change (1971).
Com Diving into the Wreck (1973), ganhou o National Book Award. Além de
poesia, escreveu ensaios, parte deles reunidos em A Human Eye: Essays on Art
in Society (2009). Morreu no dia 27 de março, na sua cidade natal.
* Tradução
de Maria Irene Ramalho e Monica Varese Andrade
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