segunda-feira, 22 de maio de 2017

ABECEDÊ, de Vítezslav Nezval (fragmento)


A
Chamada seja cabana simples
Tragam pro Vltava o palmas! seu equador
Da simples casa tira o caracol seus chifres
sem abrigo pra cabeça o pobre só tem dor

* * *

C
brilha como a lua sobre as águas
Míngua desaparece lua homérica
morreram para sempre os romances dos gondoleiros
siga em frente capitão até a América

D
arco que se tensa da direção oeste
O índio descobriu rastos na terra
Sus últimos companheiros morreram faz já tempo
e a lua cresce  pradaria   pedras

* * *

F
bicam pássaros santos em Assis
a casca das árvores acima do divino amante
Imagens! aromas do incenso fumegante
na surrada loja de miudezas

* * *

JQ
Até a França através da Alemanha
com sua gaita de foles o tocador sulca ventos
Lentas canções do caminho
sibila seu instrumento

* * *

RRRRR
Os tambores começaram sua marcha
por sete mares por nove pontes
RRR  os comediantes da Noveforças
Alçaram tendas à beira do Nilo e suas fontes

S
Nas planícies da escura Índia
viveu John encantador de sepentes
Amava Elis sibilante dançarina
E ela o mordeu    Morreu de sífilis

* * *

U
me lembras nossa meninice tranqüila
o mugir das vacas no torto riacho
messias pastores em vestes de linho
e o esmeralda dos frutos no horto

V
reflexo da pirâmide na areia ardente

V
construtivismo digno do teatro DISK

W
Casiopeia imaculada como um piloto
sobrevoa a cabeça do faraó  poderoso

X
signo de Caim na cabeça da víbora
X eternidade X veneno
X ossos cruzados O tempo na flor apodrece
X no final  X no começo

Z
na despedida  digamos adeus então
Décima musa lembras os dentes de Sagitário
Cada despedida tem dentes? Sim, claro!
Subir a Torre Eiffel por um cabo dentado

* Tradução de Odile Cisneros. Publicado inicialmente na revista Sibilia


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