VIM AO MUNDO EM AGOSTO
Sou triste
de nascença e sem remédio.
Vim ao mundo no triste mês de agosto
o mês fatal das chuvas e do tédio,
e nasci quando o sol estava posto.
Vim ao mundo no triste mês de agosto
o mês fatal das chuvas e do tédio,
e nasci quando o sol estava posto.
Vim ao mundo
chorando... (o meu presságio!)
Um vento mau marcava na vidraça
o plangente compasso de um adágio,
anunciando agoirento uma desgraça.
Um vento mau marcava na vidraça
o plangente compasso de um adágio,
anunciando agoirento uma desgraça.
Sou triste.
É irremediável este mal.
E eu não quero curar minha tristeza.
Só ela para mim tem sido leal,
Na minha via-sacra de incerteza.
E eu não quero curar minha tristeza.
Só ela para mim tem sido leal,
Na minha via-sacra de incerteza.
Sou triste
de nascença. É mal sem cura.
A vida não desfez meu nascimento.
Sou a menina triste e sem ventura,
que em agosto nasceu, com chuva e vento.
A vida não desfez meu nascimento.
Sou a menina triste e sem ventura,
que em agosto nasceu, com chuva e vento.
RETRATO
Chego junto
do espelho. Olho meu rosto.
Retrato de uma moça sem beleza.
Dois grandes olhos tristes como agosto,
olhando para tudo com tristeza!
Retrato de uma moça sem beleza.
Dois grandes olhos tristes como agosto,
olhando para tudo com tristeza!
Pequeno
rosto oval. Lábios fechados
para não revelar o meu segredo...
Os cabelos mostrando, sem cuidados,
Uns fios brancos que chegaram cedo.
para não revelar o meu segredo...
Os cabelos mostrando, sem cuidados,
Uns fios brancos que chegaram cedo.
A longa
testa aberta, pensativa.
No meio um traço, leve, vertical,
indicando uma ideia muito viva
e os sérios pensamentos: — o meu mal!...
No meio um traço, leve, vertical,
indicando uma ideia muito viva
e os sérios pensamentos: — o meu mal!...
O corpo bem
magrinho e pequenino.
— Sete palmos de altura, com certeza. —
Tamanho de qualquer guri menino
que a idade, a gente fica na incerteza!
— Sete palmos de altura, com certeza. —
Tamanho de qualquer guri menino
que a idade, a gente fica na incerteza!
E nada mais.
A alma? Ninguém vê.
O coração? Coitado! está bem doente.
Não ama. Não odeia. Já não crê...
E a tudo vive alheio, indiferente!...
O coração? Coitado! está bem doente.
Não ama. Não odeia. Já não crê...
E a tudo vive alheio, indiferente!...
Meu retrato.
Eis aí: Bem igualzinho.
O espelho é meu amigo. Nunca mente.
No meu quarto, ele é o móvel mais velhinho.
O espelho é meu amigo. Nunca mente.
No meu quarto, ele é o móvel mais velhinho.
E sabe desde
quando estou descrente!...
CANÇÃO DE AGORA
Ontem meu
peito chorava.
Hoje, não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.
Estava ontem sozinha,
tendo a meu lado, sombria,
minha própria companhia.
Hoje, não.
Morreu de tanto morrer
a pena que em mim vivia.
Morreu de tanto esperar.
Eu não.
Relógios do tempo andaram
marcando o tempo em meu rosto.
A vida perdeu seu tempo.
Eu não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.
Hoje, não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.
Estava ontem sozinha,
tendo a meu lado, sombria,
minha própria companhia.
Hoje, não.
Morreu de tanto morrer
a pena que em mim vivia.
Morreu de tanto esperar.
Eu não.
Relógios do tempo andaram
marcando o tempo em meu rosto.
A vida perdeu seu tempo.
Eu não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário