A CONQUISTA DO FILÓSOFO
O melancólico
instante persiste,
E o oráculo
depois da porta,
Sempre a
torre, o barco, o trem distante.
Num lugar ao
Sul matam um Duque,
Uma guerra
se ganha. Aqui é muito tarde.
O melancólico
instante persiste.
Aqui, uma
tarde de outono sem chuva,
Num balaio, apenas
duas alcachofras;
Sempre a
torre, o barco, o trem distante.
Volta a doer
a infância nesta cena?
Por que
nesse relógio são 1 e 28?
O melancólico
instante persiste.
Reino de
mor: sua luz verde-amarela
Cai sobre a
angústia do destino;
Sempre a
torre, o bote, o trem distante.
Quer nossa
visão que retenhamos
O peso intolerável
destas coisas.
O melancólico
instante persiste,
Sempre a
torre, o bote, o trem distante.
PRESERVAR INTACTAS AS COISAS
Num campo
sou ausência
de campo.
Sempre
é assim.
Onde quer
que esteja
sou o que
falta.
Ao caminhar
separo o ar
e o ar
preenche
sempre
os vazios
onde meu corpo
esteve.
Todos temos
razões
para nos
mover.
Eu me movo
para preservar
intactas as coisas.
MEU FILHO
À maneira de Carlos Drummond de Andrade
Meu filho,
meu único
filho,
o que nunca
tive,
seria hoje
um homem.
Move-se
no vento,
sem nome nem
carne.
Às vezes
vem
e apoia a cabeça,
mais leve
que o ar,
em meu ombro
e lhe
pergunto:
Filho
onde estás?
onde te escondes?
E me
responde
com alento
frio,
nunca ouviste
quando te chamei
e chamei
e continuei chamando-te
de um lugar
mais além
muito além
do amor,
onde tudo
onde nada
quer nascer.
•
Mark Strand nasceu a 11 de abril
de 1934 em Summerside, Canadá. Eleito integrante da Academia Americana de Artes
de Letras em 1981, foi um dos mais importantes nomes da poesia no país do qual
adotou sua nacionalidade. Em 1999, por exemplo, recebeu o Prêmio Pulitzer de Poesia
pelo livro Bizzard of One: Poems. Também se destacou na escrita em prosa
(contos, livros para criança e ensaios sobre criação poética e artes
plásticas). Strand morreu em Nova York a 29 de novembro de 2014.
* Traduções de Pedro Fernandes de Oliveira Neto
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