BERLIM I
Barris alcatroados rolavam das saídas
de depósitos escuros para os altos batelões.
Os rebocadores puxavam. A bruma da fumaça
caía fuliginosa sobre as ondas oleosas.
Dois vapores, com banda de música, vinham.
Baixaram chaminés sob o arco da ponte.
Havia fumo, fuligem e fedor sobre as vagas
imundas dos curtumes das peles marrons.
a barcaça, ressoavam os sinais,
como um retumbar crescendo no silêncio.
Deixamo-nos levar e entramos no canal
chegando lentamente aos jardins. No idílio
víamos os fanais noturnos de enormes chaminés.
BERLIM II
A margem alta da estrada, onde estávamos,
era branca de poeira. Vimos no estreito
inúmeras pessoas: fluxo de gente e multidão,
e ao longe a metrópole erguer-se na noite.
Cheias charabãs passavam pela massa
pendiam delas bandeiras de papel.
ônibus com capotas e carros.
Automóveis, fumaça e buzinas.
Rumo ao imenso mar de concreto. Mas a oeste
vimos, na longa estrada, árvore ao lado de árvore,
a filigrana das copas sem folhas.
O sol pendia grande no horizonte celestial.
E raios vermelhos abriam o caminho da noite.
E sobre todas as cabeças, um sonho de luz.
* Trad. Marco Aurélio Werle
O DEUS DA CIDADE
Escarrapachado sobre um quarteirão,
À sua volta acampam negros ventos.
Ele olha irado, ao longe, a solidão
De últimas casas em campos nevoentos.
Baal ao pôr do sol, pança luzindo,
À volta ajoelham as grandes cidades.
De um mar de negras torres vem subindo
O eco monstruoso das trindades.
Na rua, a multidão música entoa,
Em dança coribântica exaltada.
Das chaminés fabris o incenso escoa
E sobe até ele, em fragrância azulada.
No seu sobrolho crepitam temporais.
Narcortiza-se em noite o escuro dia.
Como os abutres, esvoaçam vendavais
Em cabeleira irada, que arrepia.
Estende no escuro a mão de carniceiro.
Um mar de fogo varre, num estremecer,
Toda uma rua, que acaba num braseiro,
Até que o dia tarde a amanhecer.
* Trad. João Barrento
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