Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...
Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára m cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.
Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria
Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.
O MAR
Semelhante a Algum Monstro, Quando Dorme
— O Mar... Era sombrio, Vasto, Enorme...
— Arfando Demorado,
— Imenso sob os Céus!
— Tal Imenso e Sombrio, O Mar Seria
— E assim, Em Vagas Tristes Arfaria
No Tempo EM que o Espírito de Deus
— Sobre Ele era Levado!
SOZINHO
Quando eu morrer m'envolva a Singeleza,
Vá sem Pompa a caminho do coval,
Acompanhe-me apenas a tristeza
Não vá do bronze o som de val' em val!
Chore o céu sobre mim de orvalho as bagas
Luz do sol-posto fulja em seu cristal,
Cantem-me o «dorme em paz» ao longe as vagas.
Gemente a viração entoe o «Amém»
Vá assim té ermas, afastadas plagas...
Lá... fique eu só!
Não volte lá ninguém!
•
Ângelo de Lima nasceu no Porto no dia 30 de julho de 1872. Foi um poeta da corrente
simbolista, membro da revista Orpheu, que viria a integrar expedição militar a
Moçambique de onde regressou em estado mental debilitado. Da sua obra
destacam-se Poemas inéditos, Poesias Completas e Poemas in Orpheu 2 e
outros escritos. O poeta morreu em Lisboa no dia 14 de agosto de 1921.
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