Poema
natural
Abro os
olhos, não vi nada
Fecho os
olhos, já vi tudo.
O meu mundo
é muito grande
E tudo que
penso acontece.
Aquela nuvem
lá em cima?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Ontem com
aquele calor
Eu subi, me
condensei
E, se o
calor aumentar, choverá e cairei.
Abro os
olhos, vejo um mar,
Fecho os
olhos e já sei.
Aquela alga
boiando, à procura de uma pedra?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Cansei do
fundo do mar, subi, me desamparei.
Quando a
maré baixar, na areia secarei,
Mais tarde
em pó tomarei.
Abro os
olhos novamente
E vejo a
grande montanha,
Fecho os
olhos e comento:
Aquela pedra
dormindo, parada dentro do tempo,
Recebendo
sol e chuva, desmanchando-se ao vento?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Mistério
Há vozes
dentro da noite que clamam por mim,
Há vozes nas
fontes que gritam meu nome.
Minha alma
distende seus ouvidos
E minha
memória desce aos abismos escuros
Procurando
quem chama.
Há vozes que
correm nos ventos clamando por mim.
Há vozes
debaixo das pedras que gemem meu nome
E eu olho
para as árvores tranquilas
E para as
montanhas impassíveis
Procurando
quem chama.
Há vozes na
boca das rosas cantando meu nome
E as ondas
batem nas praias
Deixando
exaustas um grito por mim
E meus olhos
caem na lembrança do paraíso
Para saber
quem chama.
Há vozes nos
corpos sem vida,
Há vozes no
meu caminhar,
Há vozes no
sono de meus filhos
E meu
pensamento como um relâmpago risca
O limite da
minha existência
Na ânsia de
saber quem grita.
Escultura
Eu já te amava pelas fotografias.
Pelo teu ar triste e decadente dos vencidos,
Pelo teu olhar vago e incerto
Como o dos que não pararam no riso e na alegria.
Te amava por todos os teus complexos de derrota,
Pelo teu jeito contrastando com a glória dos atletas
E até pela indecisão dos teus gestos sem pressa.
Te falei um dia fora da fotografia
Te amei com a mesma ternura
Que há num carinho rodeado de silêncio
E não sentiste quantas vezes
Minhas mãos usaram meu pensamento,
Afagando teus cabelos num êxtase imenso.
E assim te amo, vendo em tua forma e teu olhar
Toda uma existência trabalhada pela força e pela angústia
Que a verdade da vida sempre pede
E que interminavelmente tens que dar!...
Pelo teu ar triste e decadente dos vencidos,
Pelo teu olhar vago e incerto
Como o dos que não pararam no riso e na alegria.
Te amava por todos os teus complexos de derrota,
Pelo teu jeito contrastando com a glória dos atletas
E até pela indecisão dos teus gestos sem pressa.
Te falei um dia fora da fotografia
Te amei com a mesma ternura
Que há num carinho rodeado de silêncio
E não sentiste quantas vezes
Minhas mãos usaram meu pensamento,
Afagando teus cabelos num êxtase imenso.
E assim te amo, vendo em tua forma e teu olhar
Toda uma existência trabalhada pela força e pela angústia
Que a verdade da vida sempre pede
E que interminavelmente tens que dar!...
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Adalgisa Nery nasceu em 29 de outubro de 1905 no Rio de Janeiro. Escreveu vasta obra que inclui romances, contos e crônicas. Em poesia publicou Ar do deserto (1943), Cantos de angústia (1948), As fronteiras da quarta dimensão (1952), Mundos oscilantes (1962) e Erosão (1973). Morreu em 7 de junho de 1980.
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