VISÃO
Desconheço a
matéria de que és feita,
Que mão
febril teu corpo modelou;
Minha alma,
ao pressentir-te, insatisfeita,
Como as
ondas do mar se alevantou!
Oh, feminil visão
clara e perfeita
Que meu
olhar profano dissipou,
Névoa que a
luz do alvorecer enfeita
E o hálito
da aragem dispersou!
Na terra, em
sonhos ando a procurar-te,
Na terra,
pelo céu, e em toda a parte
Para beijar
os rastos dos teus pés...
Mas quanto
mais minha alma de procura,
Mais teu vulto
se perde na fundura...
E por ti
morro sem saber quem és!
PROFECIA
Se evoco a
tua história,
Auguro a tua
signa:
Terás aquela
glória,
Ó alma, de
quem és digna...
E embora eu não
te veja
Irei sempre
contigo...
Bem que, por
vezes, seja
O teu pior
amigo!
•
Fausto José nasceu
em Armamar a 18 de março de 1903. Estou em Coimbra e aí integrou o grupo da
revista Presença que aí incluía as figuras que deram pulso ao movimento
neorrealista em Portugal. Publicou dez livros de poesia, entre eles Fonte
branca, que assinala sua estreia nesse gênero em 1928, Remoinho
(1933), Solstício (1940), Embalo (1942), É el-rei que vai à
caça (1951). Toda sua obra foi reunida e publicada em 1999 em dois volumes
prefaciados por Agustina Bessa-Luís. Fausto José morreu em 1975.
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