segunda-feira, 29 de julho de 2019

Dois poemas de Fausto José





VISÃO

Desconheço a matéria de que és feita,
Que mão febril teu corpo modelou;
Minha alma, ao pressentir-te, insatisfeita,
Como as ondas do mar se alevantou!

Oh, feminil visão clara e perfeita
Que meu olhar profano dissipou,
Névoa que a luz do alvorecer enfeita
E o hálito da aragem dispersou!

Na terra, em sonhos ando a procurar-te,
Na terra, pelo céu, e em toda a parte
Para beijar os rastos dos teus pés...

Mas quanto mais minha alma de procura,
Mais teu vulto se perde na fundura...
E por ti morro sem saber quem és!


PROFECIA

Se evoco a tua história,
Auguro a tua signa:
Terás aquela glória,
Ó alma, de quem és digna...

E embora eu não te veja
Irei sempre contigo...
Bem que, por vezes, seja
O teu pior amigo!

Fausto José nasceu em Armamar a 18 de março de 1903. Estou em Coimbra e aí integrou o grupo da revista Presença que aí incluía as figuras que deram pulso ao movimento neorrealista em Portugal. Publicou dez livros de poesia, entre eles Fonte branca, que assinala sua estreia nesse gênero em 1928, Remoinho (1933), Solstício (1940), Embalo (1942), É el-rei que vai à caça (1951). Toda sua obra foi reunida e publicada em 1999 em dois volumes prefaciados por Agustina Bessa-Luís. Fausto José morreu em 1975.

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