O VENTO!
Na serra de
mansinho
E em cima
pelo alto, junto aos céus,
O vento
passa a sibilar sozinho
Vocábulos de
Deus!
Ó vento, ó
ventania, ó noite, ó sul!
Baloiçai-vos
no vago, ondas do ar,
Entre o
negro da terra e o céu azul
E entre o azul
do céu e o azul do mar!
Quando o teu
nome é brisa, ó ventania,
Súas à tarde
pérolas d’orvalho,
Porque
ajudas no pão de cada dia
Quem anda ao
largo no trabalho!
Na vastidão
sombria
Em negra
noite, em noite de trovões,
És tu ó
ventania ó ventania
O sopro
colossal dos furacões!
Vai devagar,
sossega um pouco ó vento
Larga no ar
as ondas d’algodão
E um
turbilhão de nuvens pardacento!...
Mas ai! Não
pares não
Tu és a
minha doida fantasia
És como ela aventureira,
incerta,
E o
movimento encerra poesia,
Alerta, ó
vento, alerta!!!!......
*
Labaredas
folgam, brincam
Na
transparência da brasa,
Oscilam,
cintilam, tilintam
Fugazes
laivos na casa!
E o vento
geme e resume
E a chuva rosna
e derrue,
E o lume
canta e reune
O lume reza
e construe!
E o espasmo
do mar longínquo,
E os hinos
que a onda arranca,
São como as
ansias que eu sinto,
Acabam na
espuma branca.
Tristezas
d’El-Rei Tristão
El-Rei
Tristão cofiou a barba toda;
no velho
parque, exausto e sonhador,
poz á roda
de si as mulheres da roda,
houve um
baile e foi ele o tocador.
Dançarina
dos Lagos, sonorosa,
com braçadas
de baile e cobras d’alga,
recitava
perdida e clamorosa
versos com
gestos d’ua frieza fidalga.
E a passos d’aza
volutinava em espira,
toda alongada
nos terreiros de Quinta,
perdido na distancia
o lyz da cinta;
magna lira d’El-Rei
geme e delira;
e entre as
áleas dos pálidos terreiros
eram tudo soluços
e pandeiros!
•
Mário Saa
nasceu em 18 de junho de 1893 em Caldas da Rainha. Em 1895, com o regresso da
família a Avis e a construção da Herdade de Pero-Viegas, muda-se e vive aí
quase toda a vida. Frequentou os cursos de Matemática (1918) e Medicina (1930).
Publicou nas revistas Presença, Tempo presente e Sudoeste.
Autor de extensa obra, sua poesia foi reunida em 2006 por João Rui de Sousa
(INCM) com o título Poesia e alguma prosa. Morreu no dia 23 de janeiro
de 1971, em Ervedal.
* Estes três poemas tal como apresentados saíram na revista Colóquio / Letras, Lisboa, nov. 1981, n.64.
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