segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Um poema de Harry Martinson




CAVALO E CAVALEIRO

Centenas de gerações
tornaram nobre o cavalo árabe
ao serviço de muitos príncipes
                                                [degenerescentes.
Por vezes também as caudas que se agitaram
                                              [por esses déspotas
acabaram por lançá-los no precipício,
enquanto o árabe que carregava o tirano
retesava os cascos no solo e estacava
à borda do abismo.

Assim são os cavalos e outros animais nobres.
Por isso Goya e outros grandes artistas
nos seus retratos de cavaleiros, maior atenção
consagraram ao cavalo
que ao pouco importante ocasional
                                                         [cavalgador,

fosse ele um grosseirão, ou um refinado,
um principiante da sela
ou um veterano dela.

O sonho de reunir com segurança cavaleiro
                                                               [e cavalo
acabou por tornar-se centauro,
cavaleiro que é sua própria montada.

Esse do cavaleiro o desejo sonhado
de não ser nunca derrubado.
                                                                       

Harry Martinson nasceu a 6 de maio de 1904, em Jämshög, uma localidade do Sul da Suécia. Quando o pai morreu, Harry contava apenas seis anos de idade; sua mãe partiu para os Estados Unidos e entregou o menino para um orfanato. Adotado reiteradas vezes desde então, sua fuga definitiva se deu aos catorze anos a bordo de um navio a vapor, onde trabalhou em funções diversas: de grumete a maquinista naval. Nesse período esteve em várias partes do mundo. O regresso ao país natal se deu depois de contrair tuberculose, agravada sobretudo pelo constante manuseio do carvão. Em terra, casou-se com Moa Martinson, uma viúva e mãe de três filhos, e cerca de quinze anos mais velha. No ano do casamento, em 1929, publicou o seu primeiro livro, uma coletânea de poemas intitulada Spökskepp. Esta obra suscitou alguma atenção por parte da crítica, que acolheu ainda melhor o aparecimento de Nomad em 1931. Por essa altura juntou-se ao movimento literário Fem Unga, classificado como vitalista-primitivista. Em 1939 as tropas soviéticas invadiram o território finlandês, na chamada Guerra do Inverno e Martinson achou por bem alistar-se no Corpo Voluntário Sueco para defender a soberania daquele país; as vivências desse período foram registradas em Verklighet Till Döds, de 1940. Em 1945 publicou Passad (Ventos Alísios), uma viagem espiritual dedicada ao companheirismo e, em 1948, foi a vez de Vägen Till Klockrike (Passagem Para Klockrike), romance que descreve as vagabundagens de Bolle, um homem lúcido e individualista. No ano de 1949 tornou-se no primeiro autodidata oriundo do proletariado a ser eleito membro da Real Academia Sueca e, em 1954, recebeu um doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Gotenburgo. Em 1956 publicou Aniara, um poema épico que profetizava a evacuação do planeta Terra, tornada inabitável. Em 1974, foi galardoado com o Prêmio Nobel de Literatura.

                                                                                                             
* Tradução de Silva Duarte.



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