PORNOGRAFIA
Uma lembrança pode ser pornográfica?
Seria preciso que uma pornografia pudesse não ser pública, sem testemunha, visto que uma lembrança não se escreve, não se mostra, não se diz. sem gente que espia.
Não sou necrófilo, não desejo teu cadáver. não sei o que é. se é. vi-te morta. não te vi cadáver.
Porém eu desejo.
Essas lembranças são as mais sombrias de todas.
Violentam o mais possível o princípio de realidade.
Mergulho, em pleno dia, nesses ardores.
Mexes, respiras.
Mas o silêncio é absoluto.
Seria preciso que uma pornografia pudesse não ser pública, sem testemunha, visto que uma lembrança não se escreve, não se mostra, não se diz. sem gente que espia.
Não sou necrófilo, não desejo teu cadáver. não sei o que é. se é. vi-te morta. não te vi cadáver.
Porém eu desejo.
Essas lembranças são as mais sombrias de todas.
Violentam o mais possível o princípio de realidade.
Mergulho, em pleno dia, nesses ardores.
Mexes, respiras.
Mas o silêncio é absoluto.
ESSE PEDAÇO
DE CÉU…
Este pedaço
de céu
doravante
te é consagrado
doravante
te é consagrado
em que a
face cega
da igreja
se encurva
da igreja
se encurva
complicada
por uma castanheira,
por uma castanheira,
o sol, ali
hesita
deixa
hesita
deixa
um vermelho
ainda
ainda
antes que
terra
emita
emita
tanta
ausência
que teus
olhos
se exprimem
se exprimem
de nada
EM MIM
REINAVA A DESOLAÇÃO
Onde tua existência era tão forte. tornara-se forma de ser.
Em mim reinava a desolação. como falando em voz baixa.
Mas as palavras não tinham a força de atravessar.
De atravessar apenas. pois não havia o quê.
Volta-se para o mundo. volta-se para si.
Não se queria habitar de modo algum.
É o núcleo habitual do infortúnio.
"Você" era nossa maneira de tratamento. fôra.
Morta eu não podia mais dizer senão : "tu".
•
Jacques
Roubad nasceu a 5 de dezembro de 1932 em Caluire-et-Cuire, Ródano, na França.
Matemático, foi professor na Universidade de Paris X Nanterre. Sua obra se
espraia por várias formas: ensaio, poesia, teatro e romance. Formou parte no
grupo chamado grupo de Oulipo, onde conheceu o escritor Raymond Queneau, quem
publicou a primeira obra de Roubad, pelas Edições Gallimard.
* Traduções de
Inês Oseki-Dépré
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