terça-feira, 3 de novembro de 2020

Dois poemas de Wilfred Owen

 


JOVEM SOLDADO MORTO
 
Não. Não é a morte
sem um Paraíso
de quem foi roubado
da vida e seu riso;
 
tão pouco o assassínio,
doce, duro, lento,
do mártir sorrindo
para o firmamento:
 
é este sorriso
vão como a ilusão,
tão débil, tão vão!
Na boca morta de um menino.
 
 
ANTÍFONA À MOCIDADE QUE VAI MORRER
 
Quais sinos dobrarão por estes que assim morrem
como animais? Só a ira horrenda dos canhões.
Só o rápido estrondar dos fuzis gaguejantes
deles dirá as apressadas orações.
Nenhum escárnio: nem prece ou dobre a finados;
nenhuma voz de dor, salvo os coros os coros
insanos e ásperos das balas soluçantes,
e clarins a chamar de tristonhos condados...
 
Que velas poderão sua morte ajudar?
Em seus olhos, e não entre as mãos de meninos,
a sacrossanta luz do adeus há de brilhar.
Terão na palidez de frontes femininas
a mortalha; no amor de almas pacientes flores,
e em cada anoitecer um abaixar de cortinas...
 
Wilfred Owen nasceu em Plas Wilmot, Shropshire, a 18 de março de 1893. Seu trabalho como poeta, constituído em grande parte por poemas marcados pela celebração à guerra, foi apresentado na antologia Poems, organizada por S. Sassoon, um de seus amigos mais próximos, dois anos depois da morte de Owen em combate na Batalha de la Sambre a 4 de novembro de 1918. 

* Traduções de Abgar Renault.

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