fabulosas em si,
promessas de sentidos possíveis,
airosas,
aéreas,
airadas,
ariadnas.
torna-as ornamentais.
Sua indescritível objetividade
nos apaga.
o que vivemos se reduz
a um gris resíduo na memória.
as enigmáticas moedas
simulando falsos valores.
um vago pó e um perfume
Talvez seja a poesia?
no pouco céu da rua,
duas borboletas amarelas brincam,
criam no serial do semáforo
um imprevisto espaço,
luz livre para o alto,
luz que ninguém viu,
a nada obriga.
Propõem a distração terrestre,
chamam para um lugar
― paralogismo ou paraíso? ― onde
certamente voltaríamos
para merecer um paraíso,
borboletas.
•
Ida Vitale nasceu no dia 2 de
novembro de 1923, em Montevidéu. É poeta, tradutora, ensaísta e
crítica literária integrante da chamada Geração de 45 no seu país natal. Por
causa da ditadura militar exilou-se
no México entre 1974 e 1984; ainda retornou ao Uruguai e em 1989 transferiu-se para
os Estados Unidos, onde viveu até recentemente. Desde 2009, quando recebeu o
Prêmio Octávio Paz, acumulou uma variedade de reconhecimentos, como Reina Sofía
de Poesia Iberoamericana (2015) e o Prêmio Cervantes (2018). Entre os livros
que publicou em poesia estão títulos como La luz de esta memoria (1949), Palabra dada (1953), Cada uno en su noche (1960), Oidor andante (1972), Jardín de sílice (1980), Parvo reino (1984), Sueños de la constancia (1988) e Procura de lo imposible (1998).
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