alarido ao sol poente
vozes ásperas
passei por prados colinas
cordeiros natos de há pouco
é mesmo assim
perguntei
corvos roucos entre guindastes
oxidadas engrenagens
pontes
ficaram para trás
pulsaram postes
é mesmo assim?
e de dormentes
e o cinza o úmido
a estação de onde se chega ao cais
cheiro de mofo e sal
é cedo ainda
na mão estendida
irradia
o plano evoca vozes palmas cadências
risadas palavras gratas
abre-se ao perene dia
ao incêndio
ao desdobramento permanente
da coisa contínua
à voragem
a vertedouros e estuários
um campo ilimitado
que a aurora abre
a figura de um cavalo
cor de cinza e claro
estardalhaço de papel crepom flores e fitas
e se impacienta
ânsia de voo
o espaço é ilimitado
se não te estancas na borda
uma força talvez te aspire
ou tropeces talvez
em direção ao oco
sabe o espaço
o espaço no galope
despenca pelos lados
enquanto o tempo
insaciável
predador
dispara
•
Vera Pedrosa nasceu no Rio de
Janeiro em 1936. Formada em Filosofia, foi jornalista nos jornais Correio da
Manhã e Jornal do Brasil, e dedicou boa parte de sua vida às
atividades diplomáticas passando por países como a Espanha, Peru, Holanda,
Dinamarca, Equador e França. Integrou a famosa antologia organizada por Heloísa
Buarque de Hollanda, 26 poetas hoje, publicada em 1975 e que reuniu
importantes nomes da poesia brasileira daquela geração. Na poesia destacou-se
pelos livros Poemas (1964), Perspectiva Naturalis (1978), De
onde voltamos o rio desce (1979) e A árvore aquela (2015). Vera
Pedrosa morreu no dia 3 de fevereiro de 2021, no Rio de Janeiro.
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