SEM NOME
Do úmido pardieiro;
Plebe triste e danada por família,
Mas indômito é o fogo companheiro.
Segue meus passos maligno um duende
E ora um anjo adiante.
Galopa meu pensar e sobe e pende,
Como Mazeppa no cavalo arfante.
Enigma sou de amor e de sadismo,
De força e de doçura;
Atrai-me a treva do abismo,
Comove-me a criança e sua candura.
Se pela porta da água-furtada
O infortúnio entra, rio;
Rio se atacada ou enjeitada,
Sem alegrias e sem confortos, rio.
Mas pelos velhos tremendo fatigados,
Pelos sem pão, eu choro;
Pelo menino magro e esfomeado,
Por mil desconhecidas dores, choro.
E quando o pranto do peito me transborda,
Num canto estranho e ardente
A alma toda arranco corda a corda
Na melodia que à boca vem fremente.
De quem ouve não cuido e se covarde
Palor me fere e cinge,
Peito o destino de vez que não me atarde,
E o viperino fel já não me atinge.
e ano após ano esperei de ti, ó vida,
(e pelo qual, tu sabes, foi para mim doçura
mesmo o pranto) não veio: nem vem ainda.
A cada manhã que acorda digo: ― É hoje ―
a cada dia que finda no ocaso digo:
― Será amanhã. ― Corre no entanto o rio
do meu sangue vermelho rumo à sua foz:
e quiçá o dom que podes dar, o único
que valha, ó vida, é este sangue: este
fluir secreto nas veias, e o bater
dos pulsos, e a luz vinda dos olhos; e te amar
unicamente porque és a vida.
Faça-me igual, Senhor, àquelas folhas
moribundas, que vejo hoje no sol
tremer no mais alto ramo do olmo.
Tremem, sim, mas não de pena: é tão
límpido o sol e doce o desprender-se
do ramo, para assim reunir-se à terra.
Acendem-se na luz última, corações
prontos à dádiva; e a agonia, para elas,
tem a clemência de uma meiga aurora.
Faz que eu me solte do mais alto ramo
da minha vida assim, sem um lamento,
penetrada por Ti, come se pelo sol.
•
Ada Negri nasceu em Lodi a 3 de
fevereiro de 1870. Estreou como poeta com a publicação de Fatalità, em
1892; o reconhecimento pela escrita deste livrou lhe favoreceu na nomeação para
a escola normal em Milão. Até então, com o diploma de professora do ensino
elementar trabalhava desde os dezoito anos como professora numa aldeia de Motta
Visconti. Depois do primeiro livro vieram Tempeste (1896) e Estrela
matutina (1921), obra mais reconhecida. Morreu a 11 de janeiro de 1945, em
Milão.
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