Há uma porta batendo sem parar.
Palavras entram. Saem. Persuasiva,
a Loucura preserva seu lugar.
aberta para só me ver sangrar.
Há um golpe de ar em minha vida.
uma quina de esquina: quebra-mar.
Entre papéis colados, sob medida,
há sempre uma paixão a recortar.
Contraditória Rosa, assim perdida,
que te expulsa e te trava, devagar.
Entre tufos de sedas e suspiros,
Não tem corpo nem alma ― sua chama
Tal como um pensamento conhecido ―
Ou testá-lo no pelo que se inflama
Contra a pele sem cor e sem sentido.
Tem o tino da flor, zelo de lua,
Ou apenas a forma imaginária?
E deita sobre a pedra, e continua
Esse mover de asa procelária.
O abandono. A baba que escorria.
Um lobo que espumava, que espumava.
Tu me ferindo, fada ― eu te premia.
Os viveiros vazios? Explodia.
Entre cachos, espasmos, exultava
a fera, que ferida, me sorria.
em momentos fugazes, sorrateiros,
(por mais que me pratique a solidão,)
em tudo que te peço: irmã, irmão,
e de tudo provamos: os primeiros.
•
Maria Lúcia Alvim nasceu a 4 de
outubro de 1932, em Araxá, Minas Gerais. Cedo se fez autodidata interessada em
artes plásticas e literatura. Realizou algumas exposições e publicou seis
livros. Sua estreia literária foi com a publicação de XX sonetos (1959).
Depois deste livro, vieram outros cinco títulos: Coração incólume (1968)
e Pose (1968), Romanceiro de Dona Beja (1975); A rosa malvada
(1980); e o recente Batendo pasto (2020). Parte dessa produção poética
foi reunida na antologia Vivenda (1989), na prestigiada coleção Claro
Enigma. Morreu a 3 de fevereiro de 2021, onde vivia em Juiz de Fora, em
decorrência de complicações pela Covid-19.
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