terça-feira, 4 de maio de 2021

Cinco poemas de Leila Míccolis




LEI DA SELVA OU EXEMPLO

Porque os índios sempre viram
o branco as índias currar,
Paiakan não acha crime
mulher branca ele estuprar...

E já que ele foi absolvido,
que se mude a legislação:
incapazes? só mesmo os índios
sem firma de mineração...


ACONTECE NAS MELHORES FAMÍLIAS...

Fazendo de ti um exame,
teus gestos são de machão,
mas teus gostos, de madame...


BILHEDE DE DESPEDIDA

Do ciclo: Lírico

Nossa foto emoldurada
que eu amava de paixão,
quebrei, a fim de enterrar
os cacos no coração.


LUA DE MEL

Nossa primeira noite foi a melhor de todas.
Preparei-te cicuta no café,
espalhaste tarântulas pela cama.
Apagada a luz,
eu esperava, de quatro, que viessem mil homens
trazendo em cada mão seus vibradores.
Por fim, a violação:
em posições exóticas,
pelos cinco sentidos te gozei,
currei-te sete vezes e mais sete,
e me arrancaste o hímen com gilete.


MAUS TRATOS

O amor
em sua desmedida diária
em seu vigor constante
é um cão vadio, pata quebrada,
a encarar os homens com desafio.

Leila Míccolis nasceu no Rio de Janeiro em 1947. Sua formação profissional começa no Direito e se desenvolve no âmbito dos estudos literários, com o mestrado e doutorado em Ciência da Literatura / Teoria Literária. Autora de dezenas de livros e coautora de telenovelas como Kananga do Japão (1989) e Barriga de aluguel (1990), sua estreia na poesia acontece com o livro Gaveta da solidão (1965). Em 2013, toda sua obra poética foi reunida em Obra completa (1965-2012).




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