terça-feira, 15 de junho de 2021

Três poemas de Vladimir Maiakovski




TEATROS

O conto é sobre os grafitos no tablado
onde uma letra de um metro se aboleta,
e à noite convidam das tabuletas
as pupilas dos anúncios pintalgados.

O automóvel pinta os lábios brancos
da mulher desbotada de Carrière;
dois fox-terriers em chamas arrancam
peliças dos passantes na carreira.

E assim que uma pera furtaluz
rasgou na sombra as lanças dos ataques,
sobre os ramos das frisas com flores de pelúcia
dependuraram-se pesadamente os fraques.

1913


ALGO SOBRE PETERSBURGO

As calhas colhem lágrimas do teto,
no braço do rio riscam um grafito;
nos lábios bambos do céu inquieto
cravaram-se mamilos de granito.

O céu - agora calmo - ficou claro:
lá, onde prateia o prato do mar, o 
úmido condutor, a passo lento,
leva o camelo de duas corcovas do rio Neva.

1913

* Tradução de Augusto de Campos


DE RUA

Barracas - entre imagens gastas,
Bandejas sangram framboesas.
Num arenque lunar se arrasta
Sobre mim uma letra acesa.

Cravo as estacas dos meus passos,
O tamborim das ruas sente.
Lentamente os bondes-cansaços
Cruzam as lanças fluorescentes.

Alçando à mão o olho arisco,
A praça oblíqua põe-se a salvo.
O céu esgazeia ao gás alvo
O olhar sem-ver do basilisco.

1913

* Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman

Vladimir Maiakovski nasceu a 19 de julho de 1893 na aldeia de Bagdádi, na Geórgia, então  parte do Império Russo. Passou a primeira infância na terra natal até quando veio a morte do pai e a miséria da família obriga a todos se irem para Moscou. Cedo ingressou nas frentes do movimento revolucionário — o que o levou à prisão algumas vezes. Com Burliuk, depois de ingressar na Escola de Belas Artes, construiu as bases do cubo-futurismo, angariando a presença de nomes como Khlébnikov, Kamiênsi, entre outros. Sua poética bebe, entretanto, da efervescência das vanguardas — do primitivismo eslavista, da linguagem transracional, do impressionismo e do simbolismo. Suicidou-se a 14 de abril de 1930 em Moscou. 

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