VÊNUS
Que lhe serve de trono, a formosa escultura,
Vênus, túmido o colo, em severa postura,
Com seus olhos de pedra o mundo inteiro encara.
E impassível, de pé, mostra em toda a brancura,
Desde as linhas da face ao talhe da cintura,
A majestade real de uma beleza rara.
De Minerva marcial que pelo gládio arranca,
Julgo vê-la descer lentamente do trono,
Postar-se à minha frente, impassível e branca,
Na fria perfeição da formosura antiga.
Nele notava-se a paixão do artista.
Via-se, ao fundo, a tortuosa crista
De altas montanhas a beijar o espaço.
Selvas banhava em triunfal conquista.
Ao longo, dois amantes, pela lista
De um carreiro, seguiam, passo a passo,
A primor, que, apesar de velha ainda
Conservava das cores a frescura.
Pois no ponto onde estavam os amantes,
Existe apenas uma nódoa escura.
Nem o chão calvo e seco o mais pequeno adorno;
Um velho ibe somente arranca um raro piorno
Que cresce pelos vãos das lájeas de granito.
Arrepia, ao de leve, a água do Nilo, em torno.
Corre o Nilo, a gemer, sob um calor de forno
Que, em ondas, desce do alto e invade todo o Egito.
De um adelo que passa, em caminho da feira,
Dá mais um tom de mágoa ao vasto quadro morto.
Pompeia, ao largo, a alvura uma barca veleira,
A tremer, a tremer, sobre as águas do Nilo.
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Francisca Júlia nasceu em Xiririca
(Eldorado Paulista/ Eldorado), a 31 de agosto de 1871. Escreveu literatura
infantil, crítica literária e poesia. Sua obra está situada entre as matrizes parnasianistas
e simbolistas. Como poeta, publicou Mármores em 1895, livro que foi
revisto e editado com o título de Esfinges em 1903. Morreu em São Paulo a 1.º
de novembro de 1920.
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