sábado, 11 de janeiro de 2014

Cinco poemas de Moacy Cirne



Correnteza em noite de lua vermelha 

Este poema azul e azulência,
em sendo divulgado nos próximos 13 dias,
resultará,
para aquele ou aquela que o fizer,
em
cinco auroras sonolentas
quatro manhãs arrepiadas
três tardes atrevidas
dois crepúsculos cansados
um poema docemente encantado
docemente encarnado.
Quem não o divulgar,
dele tomando conhecimento,
será condenado
ao fogo eterno da paixão
em noite de lua vermelha,
nas cercanias do Poço de Santana,
com suas águas cantantes
e suas surpresas cortantes.


Continua na próxima

o seriado que eu vivi
não teve fim,
                    acabou,
continua na próxima semana
com a dor que
                     ficou.


Recomeço 

Sei do sonho:
procuro tua sombra na
penumbra
da memória líquida
e nada encontro.
A lua não é vermelha
não é violeta
não é verdecoisa
mas
os loucos da madrugada
anunciam as primeiras águas da manhã.
Sei do sonho?
Tua sombra pagã
é um corpo que me foge
das mãos cansadas de espantos
e abismos.
A árvore sonolenta
anoitece os meus delírios.
Não te vejo na claridade
do silêncio.
O sol é um pássaro ferido
na solidão
de meus gestos de meus gritos
e a hora cruviana
é uma graviola
grávida
de aromas e carnes
pronta para ser saboreada.
Sei.
Não foi um sonho.
Como encontrar,
então,
na
arquitetura fluvial
de meus quereres,
as linhas
e curvas
de teu corpo barrento-canela?
Ah, não! Ah, sim!
Existe
um
grande sertão
nas veredas da minha paixão.
E eu sei do sonho.
Procuro tua sombra líquida
e nada encontro. 
A lua não é verdeluã
mas
tua sombra pagã
anoitece os meus delírios.
Como encontrar,
sol e solidão,
a arquitetura colonial
de teu corpo fluvial?
Como encontrar,
no silêncio de meus gritos,
tua sombra teus aromas tuas carnes?
Sim,
não.

Tua memória vermelha

é uma sombra grávida

de morenezas e reentrâncias

azuis.
Docemente azuis.
Barrentas e azuis.


Poema para

tua boca, quente e aveludada,
acaricia o meu sexo
língua - prazer
língua paixão
língua-pasárgada
gesto que me doidice
enquanto, lusco e fusco,
navego em teus horizontes mais íntimos
para te lamber
todatodinha
até que sejamos
(sonhos e crepúsculos)
uma só pele
um só tato
um só gemido
na noite espanto de novembro


Autobiograf

pedras e crepúsculos da minha infância
eis a oferenda seridolente
neste outubro lênin fuzil e amor
à espera da penúltima viagem
à espera do poema do sim e do chão a chão:
cabra da peste,
caatingueiro
caatingal,
eis-me
caicó sertão seridó
(faca e bala
bala e faca)
nascevivendo
de 40 e qualquer coisa:
a luz que me feria
não era luz
era a imagem de antônio silvino
nas beiradas do velho itans
a lua que me gemia
não era lua
era a imagem de dorothy lamour
nas telas do velho pax.
riovivente
de muitos
silêncios,
a meninice
cobria-me
de espantos,
filmes
e gibis.


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