segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Um poema de Anna Świrszczyńska


ATIRAR NOS OLHOS DE UM HOMEM

em memória de Wiesiek Rosiński

Tinha quinze anos
era o melhor aluno de polonês.
Corria com a pistola
contra o inimigo.

Viu os olhos do homem,
deveria ter atirado naqueles olhos.
Hesitou.
Está estendido na calçada.

Não lhe ensinaram
nas aulas de polonês
a atirar nos olhos de um homem.
Duas faces cor de ferro

Quando do céu derramavam-se
os juízos finais,
quando os vivos invejavam os cadáveres,
por seu abrigo debaixo da terra,
aqueles que por longo tempo sentiam saudade um do outro
se encontraram por acaso.

Olhavam aterrorizados
para suas faces cor de ferro,
para os olhos de lobos, para os trapos.

E quando de novo partiram
para fugir da morte
para dois lados opostos,
compreenderam que morreu
seu pequeno e lindo amor.
O soldado alemão

Hoje de noite choravas no sono,
sonhavas com teus filhos
na cidade distante.

Levantaste de manhã, farda, capacete,
metralhadora no ombro.

Foste jogar vivas no fogo
as crianças alheias.

Anna Świrszczyńska nasceu em 7 de fevereiro de 1909, Varsóvia, na Polônia. Foi poeta, dramaturga e prosadora. A aparente dificuldade criada pelo seu nome (leia-se algo como Xfirchtchinska, ou Xifirchtchínska) fez com que durante um tempo fosse conhecida nos países anglofalantes pelo seu codinome utilizado como soldada da resistência antinazista “Swir”. Começou a publicar poesia em 1930. Seu primeiro livro, Wiersze i proza (Poemas e prosa), data de 1936. Daquela época data também o início de uma importante vertente de sua obra – a literatura infanto-juvenil, grande parte dela baseada na história e lendas polonesas. Durante a guerra, além de participar da resistência, continuou a escrever. Seus poemas e dramas receberam prêmios das organizações culturais clandestinas. Participou do Levante de Varsóvia (1944) como enfermeira. As experiências daquela época foram a base para o livro Budowałam barykadę (Eu construía a barricada), publicado somente em 1974, trinta anos depois dos acontecimentos. Morreu em 30 de setembro de 1984.

* Tradução de Piotr Kilanowski publicada inicialmente na revista Qorpus.


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