segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Três poemas de Lucian Blaga



AUTORRETRATO

Lucian Blaga está mudo como um cisne.
Em sua pátria
a neve dos seres tomou o lugar do Verbo.
Seu espírito reside em buscar,
em muda busca secular,
desde sempre,
e até ao último lugar.

Ele busca a água de que bebe o arco-íris.
Ele busca a água,
de que o arco-íris
bebe sua beleza e seu não-ser.

(1943)


DE PROFUNDIS

Mais um ano, um dia, um instante -
e as vias que via adiante
Somem de sob meu passo errante.
Mais um ano, um sonho, outro sono -
e sob a terra serei dono
dos ossos que dormem em torno.

(1962)


A ÚLTIMA PALAVRA

Rendeiro das estrelas,
meus mais velhos astros
perdi.
A vida com sangue e lendas
das mãos me escapou.
Quem me conduz pela água?
Quem me leva pelo fogo?
Dos pássaros, quem me protege?

Os caminhos se afastaram.
A terra, de nenhum confim
chamou por mim.
Sou maldito!

Com os cães e as flechas
que me restaram me enterro,
em tuas raízes me enterro,
Deus, um fruto maldito.

(1924)


Lucian Blaga nasceu em 9 de maio de 1899, na Romênia. É uma das vozes mais importantes e influentes da poesia romena do século passado. Filósofo e diplomata, dedicou-se intensamente à literatura, escrevendo textos dramáticos, narrativas, memórias e poesia. Estudou teologia ortodoxa oriental, filosofia e biologia, tornando-se doutor nas duas últimas disciplinas pela Universidade de Viena. Dedicou-se à epistemologia, metafísica, estética, filosofia da cultura, antropologia filosófica, filosofia da história, filosofia da ciência e filosofia da religião. Por sua obra dramática e poética, foi premiado pela Academia Romena, de que se tornou membro ativo. Morreu em 6 de maio de 1961.

* Traduções de Caetano W. Galindo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário