segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Dois poemas de Edwin Morgan



DO NORTE

A quantas centenas de milhas está seu coração
eu sei, eu sei.
As montanhas evanescem na sua face.
Enquanto eu velejo pelos penhascos cinzentos
meu sósia vigia você, embora você não seja confiável.
Este sábado em que esquina
você encontrará seu próximo amigo? Dê a ele
um pouco apenas, enquanto meu pé escorrega aqui.
Estas coisas podem matar, como aquelas pedras.
O vento duro sopra meus pensamentos
de volta à amurada do barco e fora de sentido.
O que resta até eu vê-lo?
Este anorak¹, este nós dos dedos, aquele estreito.


O VELHO E O MAR

E uma névoa branca rolou do Pacífico
e deslizou sobre a areia, sem remexer nada -
fria como não há nada igual
naquelas estradas vivas, moveu-se
sobre os primeiros caminhões da manhã,
congelando os motoristas em suas cabines
(um deles faz uma pausa para tomar 
um café, fixa o olhar através do vapor
na névoa, suas mãos em volta do copo quente
imagine o frio, ele joga o copo descartável fora
e xinga enquanto o nevoeiro chega, segue adiante
franzindo o rosto para sentir seu toque) - 
e gaivotas vieram para gritar no alvorecer
descendo através das fazendas ao despertar
e a fumaça lutou dos campos de serragem
para cima ruma à fumaça do mar,
aspirando na manhã sem sol
enquanto um lenhador assoviou na bomba,
e a névoa do mar envolveu o brilho do machado.
E sobre os lagos parados do Oregon
e as Blue Mountains em direção a Idaho,
asas brancas escovando florestas,
um dedo branco investigando o canal
pelo Wood River, delicado, persistente, finalmente
encontrando à meia-luz, em uma casa de pedra,
um homem de barba branca como um velho capitão do mar
limpando uma arma. - Detenha o mar,
detenha o mar! Nenhuma garantia
naquele amanhecer sem sol,
seu sangue ralo, carne retalhada e cicatrizada,
olhos já exaustos de caçar
e a grande caça não conquistada.
Era tarde demais para lutar contra o mar.
O cano levantado mal brilhava
naquele vale americano, o tiro
insultou a manhã, rude e veloz
com o fim da vida de um grande escritor -
sem atrapalhar nada, mas deixando questões
que ecoam além da Espanha e África.
Questões, não respostas, gelam o coração aqui,
um cão acorrentado gemendo na palha,
a fumaça da arma se unindo à névoa do mar,
e silêncio de vales desumanos.

Edwin George Morgan nasceu em 27 de abril de 1920 em Glasgow, Escócia. Foi um poeta, tradutor e dramaturgo consagrado em todo o Reino Unido e considerado um dos maiores da literatura escocesa do século XX. Escreveu sua obra utilizando-se de uma grande variedade de formas e recebeu influências tão diversas quanto da poesia da Geração Beat, de William Blake, Maiakovski e da poesia concreta; desta última, chegou a ter poemas apresentados na revista Invenção, ligada ao grupo Noigandres. Dos trabalhos que traduziu, inclui-se poemas de Galáxias, de Haroldo de Campos. Estudou Literatura Inglesa na Universidade de Glasgow, mas precisou interromper seus estudos em 1937; três anos mais tarde foi convocado para servir o exército britânico no Oriente Médio durante a Segunda Guerra Mundial. O retorno à sua cidade natal favoreceu-lhe a continuidade dos estudos e sua formação até se tornar professor no Departamento de Literatura Inglesa na mesma universidade até 1980. Morreu em 19 de agosto de 2010.

¹ N. T. Espécie de casaco impermeável.

 * Tradução Virna Teixeira

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