segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Um poema de Aleksander Wat


Entre as quatro paredes da minha dor
não existem janelas e nem portas.
Só escuto como de lá para cá
anda a sentinela atrás dos muros.

Seus passos vazios e surdos
medem o cego perdurar.
Ainda é noite ou já alvorada?
Entre minhas quatro paredes – escuridão.

Para que anda de lá para cá?
Com que foice me atingirá
quando na cela da minha dor
não existem janelas nem portas?

Algures decerto passam anos
da sarça ardente da vida.
Aqui anda de lá para cá
a sentinela — espectro de rosto cego.


Mentona, fevereiro de 1956.

Aleksander Wat é o pseudônimo de Aleksander Chwat, um poeta polonês, escritor, teórico da arte, memorialista e um dos precursores do movimento futurista polonês no início da década de 1920, considerado um dos mais importantes escritores poloneses de meados do século XX.

*Tradução de Piotr Kilanowski publicados inicialmente na revista Qorpus.

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