ATIRAR NOS OLHOS DE UM HOMEM
em memória
de Wiesiek Rosiński
Tinha quinze
anos
era o melhor
aluno de polonês.
Corria com a
pistola
contra o
inimigo.
Viu os olhos
do homem,
deveria ter
atirado naqueles olhos.
Hesitou.
Está
estendido na calçada.
Não lhe
ensinaram
nas aulas de
polonês
a atirar nos
olhos de um homem.
Duas faces
cor de ferro
Quando do
céu derramavam-se
os juízos
finais,
quando os
vivos invejavam os cadáveres,
por seu
abrigo debaixo da terra,
aqueles que
por longo tempo sentiam saudade um do outro
se
encontraram por acaso.
Olhavam
aterrorizados
para suas
faces cor de ferro,
para os
olhos de lobos, para os trapos.
E quando de
novo partiram
para fugir
da morte
para dois
lados opostos,
compreenderam
que morreu
seu pequeno
e lindo amor.
O soldado
alemão
Hoje de
noite choravas no sono,
sonhavas com
teus filhos
na cidade
distante.
Levantaste
de manhã, farda, capacete,
metralhadora
no ombro.
Foste jogar
vivas no fogo
as crianças
alheias.
•
Anna
Świrszczyńska nasceu em 7 de fevereiro de 1909, Varsóvia, na Polônia. Foi poeta, dramaturga e
prosadora. A aparente dificuldade criada pelo seu nome (leia-se algo
como Xfirchtchinska, ou Xifirchtchínska) fez com que durante um tempo fosse
conhecida nos países anglofalantes pelo seu codinome utilizado como soldada da
resistência antinazista “Swir”. Começou a publicar poesia em 1930. Seu
primeiro livro, Wiersze i proza (Poemas e prosa), data de 1936.
Daquela época data também o início de uma importante vertente de sua obra –
a literatura infanto-juvenil, grande parte dela baseada na história e lendas
polonesas. Durante a
guerra, além de participar da resistência, continuou a escrever. Seus poemas e dramas receberam prêmios
das organizações culturais clandestinas. Participou do Levante de Varsóvia
(1944) como enfermeira. As experiências daquela época foram a base para o
livro Budowałam barykadę (Eu construía a barricada), publicado somente em
1974, trinta anos depois dos acontecimentos. Morreu em 30 de setembro de 1984.
* Tradução de Piotr Kilanowski publicada inicialmente na revista Qorpus.
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