quarta-feira, 28 de abril de 2010

Três poemas de José Eduardo Agualusa



TEMPO DAS CHUVAS

Antes que venham as primeiras chuvas
                                                   acender
Amarelas flores entre os rochedos
E o céu se torne móvel de compridos pássaros
E todo o chão se cubra do verde novo
Do capim

Saberás pelo vento que chegaste ao fim.


DO TEMPO E DA MORTE EM PUNGO ANDONGO

Às vezes penso naquele poente que eu não vi
                            em Pungo Andongo
E no tempo (esse estranho mito)
Que não fixou os corpos, nem os gritos
Nem o sangue do sol nesse preciso instante.
Às vezes penso em Pungo Andongo
E em quantas vezes se repetirá o rito
O ritual da morte (outro estranho mito)
Tão lúcido e tão breve nesse preciso instante.


NETO BISNETO DE JAGAS

Neto bisneto de Jagas
Tenho no sangue o lume do sangue
Das noites longuíssimas de espanto e temporais
Das noites eriçadas de presságios e punhais
Tenho no sangue a Morte
Neste sangue
Onde dormitam calados
                                   os chacais.
 
José Eduardo Agualusa nasceu no dia 13 de dezembro de 1960, em Huambo. Estudou agronomia e silvicultura no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. Reconhecido por sua obra romanesca, também escreve poesia, tendo publicado deste gênero O coração dos bosques em 1991. Os poemas aqui reproduzidos aparecem no Anuário de poesia. Autores não publicados e foi publicado online no blog As folhas ardem.
 

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