segunda-feira, 19 de abril de 2010

Três poemas de José Lino Grünewald

 


Soneto burocrático

Salvo melhor juízo doravante,
Dessarte, data vênia, por suposto,
Por outro lado, maximé, isso posto,
Todavia deveras, não obstante

Pelo presente, atenciosamente,
Pede deferimento sobretudo,
Nestes termos, quiçá, aliás, contudo
Cordialmente alhures entrementes

Sub-roga ao alvedrio ou outrossim
Amiúde nesse ínterim, senão
Mediante qual mormente, oxalá quão

Via de regra te-lo-ão enfim
Ipso facto outorgado, mas porém
Vem substabelecido assim, amém.


galanteio

todas as mulheres são
um enlace de perfumes
 
um haikai de ai-ai-ai
um haikai de vai-vai-vai
um haikai de sai-sai-sai
um haikai de cai-cai-cai
 
 
tornar à felicidade
 
tornar à felicidade
quando à hora da saudade
ciciam as aves breves
sob o anelo de ares leves.
 
oh! Quem azul não queria?
quem não quereria e ria?
pára o mundo, baixa a autora
rios sorriem agora.
 
o universo enlaça a festa
cores vibram na floresta.
chega alegre o vate ao mundo
e esquece que é profundo.

José Lino Grünewald nasceu a 13 de fevereiro de 1931, no Rio de Janeiro, cidade onde viveu toda sua vida. Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, sua atuação no universo literário começa a partir da participação nos jornais. Em 1957 formou parte no grupo de Noigandres, responsável por alguns dos importantes lances da Poesia Concretista. Exímio tradutor, é da sua autoria o nosso contato em língua portuguesa com a obra de nomes como Stéphane Mallarmé e Ezra Pound. Se destacou como ensaísta e sua obra poética está quase integralmente reunida em Escreviver. Morreu a 26 de julho de 2000.

 

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