segunda-feira, 10 de maio de 2010

Dois poemas de Duda Machado



FALA
 
no varal:
os trinta e três
 
o pão
que o diabo amassa
às vezes
em salvas de prata
às vezes
não
 
“o quê?
uma queda autobiográfica
a essa altura do campeonato?
villon já passou por aí
e tantos outros.
Diga trinta e três”
 
e daí?
eu sou mais eu
― ou melhor ―
não existe
ninguém
que possa estar
em meu lugar
não é este
o limite
que quer
toda linguagem?
 
a vida é
sem medida
e isto
é rigor
 
 
JUNTOS

o horizonte é a luz
que em cor tão unânime
apaga as superfícies
de que vive
 
esta paisagem
é só o sopro
de um instante-abismo
que apenas há
 
ei-los depois.
recém-nascidos,
já se respiram:
contemplador,
horizonte,
céu e mar.
 
Duda Machado nasceu a 3 de maio de 1944 em Salvador. Sua estreia na poesia foi com o livro Zil (1977); a este seguiram-se títulos como Um outro (1990) e Margem de uma onda (1997).

Nenhum comentário:

Postar um comentário